As mulheres que ousaram sempre foram protagonistas na transformação da sociedade. Sejam elas famosas ou anônimas, converteram sua delicadeza em força, seu amor em resistência e sua indignação em luta. Elas se atrevem! São as corajosas, as visionárias, as que desafiam as normas e escrevem a história. Pois, ao abrirem caminhos, constroem o futuro de outras mulheres todos os dias.
No entanto, o mundo sempre foi cruel com aquelas que desafiaram os limites impostos. Ao longo da história, mulheres foram perseguidas, silenciadas, julgadas, humilhadas e até mesmo apagadas de seus próprios feitos. Muitas, que deveriam ser amplamente reconhecidas, seguem desconhecidas. Você já ouviu falar de Laudelina de Campos Melo, Rosa Luxemburgo, Rosa Parks, Marie Curie, Carlota Pereira de Queirós, Pagu, Eunice Paiva, Sofonisba Anguissola, Valentina Tereshkova, Bertha Von Suttner, Maria da Penha e Malala? São nomes que precisam ser lembrados.
Por trás da imagem da mulher guerreira, há um lado invisível que poucos enxergam: o cansaço de quem sempre precisa ser forte. A sociedade romantiza a resiliência feminina, mas ignora o peso da sobrecarga emocional, das batalhas diárias travadas em silêncio e da solidão que acompanha quem é vista como inabalável. A força, muitas vezes, não é uma escolha, mas uma imposição – e, enquanto se admira a mulher guerreira, raramente se pergunta: quem a ampara quando ela precisa de descanso?
Acima de tudo, as mulheres fortes são humanas – e, por isso, também são frágeis e sentem medo. Temem porque têm muito a perder: sua voz, sua dignidade, sua liberdade. Como bem afirmou Simone de Beauvoir (foto), “Basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados.” Assim, sua luta não é apenas um ato de coragem, mas também de resistência diante da ameaça constante de retrocesso. Elas seguem em frente não apenas porque querem, mas porque precisam.
Por que é importante se atrever?
No dia 3 de novembro, celebramos o Dia da Instituição do Direito e Voto da Mulher. Essa data nos lembra que faz pouco mais de 85 anos que as mulheres conquistaram o direito pleno ao voto no Brasil, ou seja, sem precisar da autorização do marido. Essa conquista só foi possível graças à luta de muitas mulheres, como Romi Medeiros da Fonseca e Orminda Ribeiro Bastos, autoras do texto preliminar da Lei 4.121, que ampliou os direitos das mulheres casadas.
Hoje, as mulheres são maioria no eleitorado brasileiro: somos mais de 81,8 milhões de eleitoras, o que equivale a 52,47% do total e responsáveis por 49,1% dos lares do país. No entanto, essa força numérica não se reflete na política. Tivemos apenas uma mulher presidente e 16 governadoras (até 2024) – destas, apenas oito foram eleitas para o cargo, sendo as demais vice-governadoras que vieram a ocuparam o posto. No âmbito municipal, temos 673 prefeitas atuando em 2024, representando cerca de 12% dos municípios brasileiros.
As mulheres na Câmara de Deputados somam 17,7%, e apenas 16% no Senado, um índice inferior à média mundial e regional, e tem um longo caminho para atingir paridade. Em um país com 200 anos de independência, os direitos das mulheres ainda engatinham – e é justamente por isso que ousar, resistir e se atrever continua sendo essencial.
Na foto, Alzira Soriano, foi uma política brasileira, a primeira mulher a ser eleita prefeita de um município na América Latina.

O Retrocesso na Autonomia e Segurança das Mulheres
Enquanto engatinhamos na conquista de direitos, seguimos retrocedendo na autonomia e segurança das mulheres. A violência de gênero cresce rapidamente e se manifesta de diversas formas. Para se ter uma ideia, em 2022, o Brasil registrou o maior número de estupros da história; 6 em cada 10 vítimas têm até 13 anos, aponta Anuário de Segurança. E o mais alarmante: grande parte dessas agressões ocorre dentro de casa, no ambiente privado, cometidas por parceiros, familiares e amigos – justamente onde a mulher deveria se sentir segura.
Vamos celebrar algumas mulheres que se atreveram
Aproveito este espaço para citar, agradecer e homenagear algumas das mulheres que se atreveram a transformar a realidade:
- Maria da Penha Maia Fernandes – vítima de violência doméstica por 23 anos, não desistiu do direito à vida e à justiça, inspirando a criação da Lei Maria da Penha.
- Alzira Soriano – a primeira mulher da América Latina a assumir o governo de uma cidade (Lajes – RN).
- Raquel de Queiróz – primeira mulher a integrar a Academia Brasileira de Letras.
- Bertha Lutz – líder do movimento pela inclusão feminina no meio acadêmico.
- Rita Lobato Velho Lopes – a primeira mulher brasileira a obter um diploma de ensino superior.
E tantas outras, anônimas ou públicas, que seguem resistindo todos os dias. Muito obrigada!
A Arte Imita a Vida
O cinema também tem contado a história de mulheres que desafiaram seu tempo e deixaram um legado. Algumas interpretações memoráveis incluem:
- Salma Hayek como Frida Kahlo no filme Frida (2002), retratando a vida intensa e revolucionária da pintora mexicana.
- Judi Dench em Philomena (2013), interpretando uma mulher que passa 50 anos em busca do filho arrancado de seus braços.
- Charlize Theron em Terra Fria (2005), vivendo Josey Aimes, a mulher que levou aos tribunais o primeiro caso de assédio sexual nos Estados Unidos.
- Milla Jovovich como Joana D’Arc em Joana D’Arc (1999), personificando a lendária heroína francesa.
- Angelina Jolie em A Troca (2008), como Christine Collins, uma mãe que luta contra um sistema corrupto para encontrar seu filho desaparecido.
- Meryl Streep em A Dama de Ferro (2011), interpretando Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica.
- Meryl Streep novamente, indicada ao Oscar aos 34 anos por Silkwood – O Retrato de uma Coragem (1983), vivendo Karen Silkwood, trabalhadora metalúrgica que denunciou falhas de segurança e pagou um alto preço por isso.
- Cate Blanchett como Rainha Elizabeth I, no filme Elizabeth (1998) e sua sequência Elizabeth: A Era de Ouro (2007).
- Julia Roberts como Erin Brockovich em Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento (2000), retratando a luta de uma mãe solteira que, sem formação jurídica, enfrenta uma grande corporação responsável por poluir a água na Califórnia.
- Nicole Kidman como Virginia Woolf em As Horas (2002), explorando a vida e o impacto da escritora britânica.
- Angela Bassett como Tina Turner em What’s Love Got to Do with It (1993), mostrando a difícil jornada da cantora rumo ao estrelato.
- Camila Morgado em Olga (2004), interpretando Olga Benário Prestes, a revolucionária alemã de origem judaica que lutou contra o nazismo e foi perseguida no Brasil.
- Audrey Tautou em Coco Antes de Chanel (2009), dando vida à estilista Gabrielle Chanel, desde sua infância humilde até a criação do império da moda Chanel S.A.
Essas histórias, inspiradas em mulheres reais, são um lembrete poderoso da coragem necessária para desafiar as normas e transformar a realidade.
Referências:
- Atualização do texto: 10/1/2023
- Lista adaptada de: http://revistamonet.globo.com

Arte na capa:
Imagem: “Simone de Beauvoir“
Site:Algo sobre
Imagem: Alzira Soriano”
Site: Desconhecido
Edição das imagens: Equipe Diálogo Psi
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Comentários
São tantas! E tão necessárias. Precisamos citar mais seus nomes. tem razão
Com certeza, sim, Mariane! Acho que esta seria uma boa sequencia de textos, lembrar e homenagear mulheres <3
Amei o texto, Juju!
Obrigada Ana, fico muito feliz.
Muito bom!