Por que insistir em relações que machucam?
Nós nos vinculamos com os nossos parceiros atravessando os altos e baixos vividos no relacionamento. Nós amamos os ‘pontos altos’ e como a Oxitocina (hormônio do bem-estar) flui através de nós enquanto dançamos juntos, fazemos amor, olhamos nos olhos um do outro. Entretanto, não sentimos o mesmo diante dos pontos baixos, como um luto por uma perda, a vivência de um acidente ou alguma urgência, mas, ainda assim, essas experiências fortalecem os vínculos entre as pessoas.
Em relacionamentos saudáveis, o carinho e confiança, bem como a ligação entre os parceiros, são reforçados por esses altos e baixos. O vínculo saudável é também o que motiva e inspira os casais a trabalhar para superar o conflito e lutar para preservar o vínculo entre eles.
No entanto, há outro tipo de ligação que ocorre em relacionamentos abusivos. É um tipo de ‘ligação traumática’, que pode ser definida como “uma forte ligação emocional entre uma pessoa abusada e seu agressor, formada como resultado do ciclo de violência“. O que se passa nesse vínculo que faz uma pessoa insistir nessas relações, mesmo quando machucam?
Porque insistir em relações que machucam?
Cada pessoa que insiste em manter uma relação que a machuca, o faz por um motivo muito particular, que pode variar desde motivos financeiros, emocionais, pelos filhos, valores, família e, até mesmo, por questões psicológicas. Apenas reforçando: Não cabe a ninguém julgar, condenar ou sequer generalizar os motivos.
Um desses possíveis motivos é uma ‘ligação traumática’ estabelecida com o agressor. É quando a imprevisibilidade dos altos e baixos, como a raiva seguida pelas desculpas e o contraste entre as agressões e os abraços, os gritos e o silêncio, é, na verdade, também estimulante e familiar para a pessoa abusada.
Esta ‘insistência’ é quase como se houvesse um desejo por esse tipo de intensidade – (repito: intensidade, não violência) – como se ela os acordasse para fora da dormência. É familiar porque já experimentaram isso antes, então eles vêem isso como a norma e cometem o erro de acreditar que merecem isso ou que esta é simplesmente a maneira como as coisas são.
Essa ligação ocorre em muitos casos de abuso doméstico: a mulher volta várias vezes para o marido que a agride. Trata-se, de certa forma, de uma refém em sua própria casa. Sua maneira de sobreviver é ter empatia por seu marido e na maioria das vezes, assumir que foi a causa da violência e passa a vê-lo como certo. Esta é uma estratégia inconsciente. A mulher acredita que, se ela se igualar com seu agressor, adotando as suas mesmas perspectivas e valores, a tensão e opressão da ameaça de abuso ficam minimizados. Entretanto, ficar presa neste vínculo apenas perpetua o abuso e a mantém na gaiola invisível de abuso.
8 sinais de relações que machucam:
- Você defende seu agressor.
- Você não fala com os outros sobre o que acontece entre você e seu agressor.
- Você culpa a si mesmo e acredita que merece o abuso.
- Você percebe a ausência de abuso como um ato de bondade.
- Você acredita que ele/ela vai mudar se você tiver paciência e compreensão.
- Você acredita que, se você der o que ele(a) deseja, você vai sobreviver.
- Você se torna o que o outro quer e deseja.
- Você quer deixar o relacionamento, contudo parece incapaz de se separar do ciclo abusivo (que perpetua o seu próprio julgamento e culpa de si mesmo).
Fonte: Psych Central
Quantos destes sinais você reconhece em sua situação atual?
Se você reconhecer um ou todos eles, por favor, saiba que você não está sozinho. Há suporte disponível para você se desvincular desse ciclo. Você não é culpado. Há pessoas que podem ajudá-lo e você também pode pedir para receber esse apoio. Há muito mais disponível para você além do abuso, além dessa ligação traumática.
Devo denunciar um crime de violência? Como denunciar?
A violência contra as mulheres é crime e a lei prevê punição para quem os comete. Mas, para que a punição se proceda, se faz necessária a denúncia dos agressores, o que nem sempre é fácil. Muitas mulheres sentem vergonha ou têm medo de recorrer a uma delegacia tradicional para denunciar a violência e os abusos que sofrem. Para contornar esse problema, foram criadas as Delegacias de Defesa da Mulher (DDM). Estas delegacias especializadas oferecem espaço mais adequado e acolhedor a essas mulheres e o atendimento também é feito por profissionais do sexo feminino. Essas profissionais são especializadas em investigar crimes cometidos e orientar mulheres vítimas de violência.
Fonte: Guia de Direitos
Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180
Se você é uma mulher que está vivendo uma situação de violência e quer romper com o silêncio, de qualquer lugar do Brasil e a qualquer hora, você pode ligar para denunciar a violência ou pedir orientações. O Ligue 180 fornece orientações e alternativas para que a mulher se proteja do agressor. A vítima é informada sobre seus direitos legais, os tipos de estabelecimentos que poderá procurar, conforme o caso. No entanto, o Ligue 180 ainda não é um disque-denúncia, e sim uma central de atendimento.
Referências:
- Texto traduzido de: Cooney, D. (2016). 8 Signs You May Be Locked In A Trauma Bond. Psych Central. Retrieved on: May 29, 2016.
- Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher – Ligue 180
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Sempre tem um né? Pra mandar a pérola “não é todo homem” ou “mas mulher também violenta homem”… blá bla blá!
Excelente texto! ???
será que o abuso é só contra mulher?Ou há parcialidade?
Moisés, não é apenas o abuso contra as mulheres, mas, infelizmente, este é o mais comum! Seja, de pais para filhos, de filhos para pais, de chefe para subordinado, de homens para mulheres e também de mulheres para homens: NENHUMA forma de violência deve ser considerada “normal”, pois, para ser “violência” existe um que agride e um que SOFRE!
Comigo aconteceu um dois piores homem que apareceu em minha vida ele soube de tudo que passei com os outros homens.e entreguei minha vida pra poder construir uma família pois era meu grande sonho ele se fez se passar por um homem que eu sempre sonhei n do seu mais minha família tbm. Engravidamos pq queríamos ter outro filho mais agora montando uma família. Sempre falando q eu era a mulher de sis vida etc… qndo engravidei a máscara dele caiu, ele n saiu de casa como foi prometido, me enrolo. Gravidez inteira, me deixou sozinha numa foi uma consulta médica me expôs no cinema o pq cheguei atrasada gritava comigo e me chingava ali na presença de todos. Depois foi embora e me deixou passando mal sozinha. Depois de várias semanas me ligou pra pedir perdão, me deixou vários final de semana sozinha eu não entendia pois a minha gravidez estava em nosso plano, pensei em até tirar meu filho pra nunca mais olhar na cara dele pois n teria ais vínculo com esse mostro. ele me magoava me deixava sozinha e depois vinha pedir perdão pelo mal feito, e eu comece a distrair me ocupando com enxoval da minha filha e da minha CSA , fiz tudo sozinha qndo Mimha filha nasceu ele veio morar comigo mais nunca srntia ele completo, feliz. Comecei a fazer tudo pra agradad mais parece que tudo era em vãole n dava valor nda. Que eu fazia, ele me sulgava de TUDO, era muito difícil ser cararinho, me xingava pareciaw ele estava comigo amarrado. Pensei com o nascimento de nossa filha ele poderia mudar, nunca fui de me calar sobre qualquer agressões verbais e intimidação. Mais nuna tive coragem de tirar ele da minha vida pois tinha medo de n encontrar ninguém como ele falava e ele dizia que o problema era meu. eu era bipolar etc….
Soraia, sinto muito!!! A culpa não é sua! A vítima não é culpada por uma violência sofrida. Entretanto, cogite buscar uma terapia para compreender melhor seu papel nessa relação, por que você sempre autorizava que ele voltasse? Por que isso se repetia?
Sugiro a leitura deste outro texto: http://www.dialogopsi.com.br/blog/gaslighting-uma-forma-sutil-de-violencia/
Fique bem! Um grande abraço da equipe!
Gostaria de dialogar convosco porque estou aprendendo muito.
Lúcia, pode enviar um e-mail para contato@dialogopsi.com.br que alguém da equipe irá respondê-la. Sugiro também participar do Clube de Leitores e receber os textos direto no seu e-mail ;-)