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PADRÃO DE BELEZA OU PRISÃO DA BELEZA?

Quem nunca se sentiu constrangido com uma “piadinha inofensiva” sobre ganhar ou perder alguns quilos? Ou ficou triste ao ser cobrado a seguir um padrão imposto por outras pessoas? “Por que você não alisa o cabelo?” ou “Por que não engorda um pouquinho?” Perguntas como essas, feitas de forma casual, muitas vezes nos deixam inseguros e pressionados a nos encaixar em moldes que não são nossos.

O que é um padrão de beleza?

Um padrão é, por definição, uma “base de referência para determinar as qualidades ou características de algo; uma norma” [1]. Quando falamos em padrões de beleza, estamos nos referindo a um conjunto de características físicas vistas como “ideais”, tornando-se modelos a serem seguidos. Contudo, esses ideais variam conforme o tempo, a cultura e a fase da vida.

Hoje, os padrões impostos pela moda, pela mídia e, especialmente, pelo marketing moldam nossa percepção do “corpo perfeito”. São os chamados “ideais Barbie”, com corpos de plástico e proporções impossíveis. Esses modelos são, além de inatingíveis, violentos e cruéis, pois pregam a uniformidade em um mundo de corpos únicos. Ignoram que cada corpo tem suas próprias formas, todas igualmente especiais.

Desde cedo, somos influenciados por esses conceitos. Crescemos cercados pela pressão consumista e pela cobrança para nos encaixarmos em determinados padrões físicos e comportamentais. Na adolescência e fase adulta, enfrentamos decisões importantes — sobre carreira, amizades, relacionamentos, estilo de vida, etc — e, nessa fase, os jovens em especial, são muito vulneráveis a esses padrões e às representações sociais predominantes.

Desde sempre existiram padrões de beleza na sociedade.

A prisão dos padrões

A valorização de um único tipo de corpo gera uma percepção negativa sobre tudo o que foge desse molde — o “diferente”, que muitas vezes se torna alvo de rejeição ou pena. Para evitar esses julgamentos, acabamos, consciente ou inconscientemente, cedendo à pressão de nos adequarmos. Sem questionar, trocamos o leite integral pelo desnatado e abrimos mão daquela sobremesa favorita. Quando nossas escolhas passam a ser ditadas por um “padrão ideal”, ele começou a dominar nossa vida. A “beleza” se transformou em uma prisão.

Para ilustrar essa realidade, convidamos você a ler o relato de Patrícia Sebastiany Pinheiro [2], que compartilha sua relação com o próprio corpo de forma inspiradora.

Sempre fui magra

Patrícia Sebastiany Pinheiro [3]

Anos após entrar na adolescência, comecei a ganhar um pouco de corpo. Mais ou menos, até os 15 anos, me sentia bonita, não tinha maiores problemas com meu peso. Por volta dos 16 ou 17 anos, enquanto ainda estava no ensino médio, em decorrência de algumas doenças físicas e, posteriormente, traumas emocionais, comecei a emagrecer bastante. Mas eu não percebia a diferença, me alimentava consideravelmente bem e levava uma vida normal. Foi quando os outros começaram a apontar e a criticar minha magreza.

E assim, dia após dia, eu, que mais magrinha ou mais cheinha sempre havia vivido bem dentro do meu próprio corpo, passei a ouvir calada os diversos comentários negativos dispensados ao meu corpo magro, comecei a internalizá-los e a acreditar neles.

O seguinte pensamento passou a martelar 24h por dia na minha cabeça: “Para ser bonita e aceita, preciso engordar”. Assim, passei a fazer milhares de tratamentos, a comer coisas que não tinha vontade mesmo quando estava sem fome, e a frequentar academias (coisa que detesto fazer).

Cada quilo que eventualmente eu perdia, acabava comigo.

A cada: “Nossa, como você tá magrinha”, lá ia eu novamente tentar descobrir como juntar os pedaços e levantar da cama no outro dia sem ter medo de colocar uma calça que, aos meus olhos, iria sobrar mais ainda na cintura.

Passei a desenvolver uma espécie de síndrome do pânico, um medo patológico de emagrecer. Medo de ficar doente e emagrecer. Medo de comer uma coisa estragada e emagrecer.

Colocando assim, parece bobo, mas a preocupação com o corpo, a associação que fiz entre o corpo ideal e a felicidade, me tirou grande parte da tranquilidade de viver, da espontaneidade, da segurança; me fazendo preocupada, pessimista, detalhista, extremamente ansiosa e facilmente deprimida.

Fiz e ainda faço muita terapia para conseguir lidar com esse padrão de pensamento que, mesmo que de forma um pouco menos acentuada, ainda insiste em me puxar para baixo. Mas hoje, consigo entender que apesar de eu ter permitido que todo esse medo tomasse uma proporção gigantesca na minha vida, eu não o construí sozinha.

Eu não me sentia feia, até que começaram a dizer que eu seria muito mais bonita se ganhasse uns quilinhos. Não me sentia menos gente, até alguém dizer que “eu era legal, mas muito magrinha”.

Eu me sentia inteira antes de me dizerem que eu estava a ponto de sumir.

O que mais dói é saber que eu sou mais uma dentre as milhares de mulheres que experienciam situações como essa; que, na tentativa de engordar ou emagrecer, adoecem para atingir um padrão de beleza que nos é empurrado todo dia. E é por isso que meu estômago revira a cada capa de revista que eu vejo carregada de dietas para emagrecer. É por isso que não faço questão de ter a amizade de uma pessoa que chama uma mulher de “caveira” ou de “baleia”.

É por todos esses comentários maldosos a que eu e muitas mulheres ainda somos submetidas que precisamos do feminismo, pois, diferentemente de vitimização, como muitos o definem, ele é, sim, o abrigo de vozes que lutam contra todas essas imposições que já tiraram o meu brilho do olhar; é a certeza de que o belo e o correto sempre serão nada mais do que aquilo que NÓS MESMAS desejarmos ser.”

Referências

[1] Disponível em: https://www.lexico.pt/padrao/
[2] Autora
[3] Blog Caminhos.eu
[4] Beleza sem padrão

[2] Autora

Patrícia Sebastiany Pinheiro tem 21 anos. É gaúcha de Santa Maria, onde estudou Psicologia na UFSM por três anos. Atualmente mora em Florianópolis. É escritora, feminista, apaixonada por moda e assumidamente viciada em filmes e séries. Escreve em seu blog pessoal e mantém uma página no Facebook.

quem somos julia

Júlia Maria Alves

Psicóloga graduada pela UFMG (2009), com especialização em Clínica Psicanalítica na atualidade pela PUC-MG (2021) e em Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral (2012). Atua com atendimento clínico e orientação profissional e gestão de carreira.

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  1. Brida Castro Pezzin 29 de março de 2015 at 14:55 - Reply

    Parabéns! Adorei o texto!
    Posso compartilhar na minha fanpage: https://www.facebook.com/nutricionistabridacastro ? Acho super importante as pessoas saberem diferenciar saúde de padrão de beleza imposto pela mídia. Muitas pessoas precisam ver esta realidade que tem feito muitas pessoas de vítima e pré-conceitos. Porque ninguém precisa de ser mais magrinha ou mais gordinha para ser bonita, precisamos de ser saudáveis e de nos amar. ;)

    • Júlia Mª Pereira Alves 29 de março de 2015 at 23:23

      Claro, Brida! Sinta-se à vontade para compartilhar!
      Fico muito satisfeita!
      Um abraço, Júlia Alves

  2. Karina Friaça 24 de março de 2015 at 00:41 - Reply

    Coincidentemente pensei nisso hoje, esse terrorismo alimentar que estamos vivendo. Passei por situação parecida como a da Patricia na adolescência por ser “legal e bonita mas muito magra” e hoje vejo essa busca excessiva pela magreza ou essa moda fit de todos serem musculosos e não comer um pedacinho de chocolate porque não é legal para os padrões atuais. Pessoas fazendo restrições alimentares sem precisar, só porque está na moda. Até quando ficaremos escravizados pela aparência externa?

    • Júlia Mª Pereira Alves 29 de março de 2015 at 23:25

      Ótima reflexão e questionamento, Karina! A mudança de paradigmas começa dentro de nós mesmos!
      Um grande abraço!! Obrigada por participar!

  3. Maria Conceição Souza 19 de março de 2015 at 10:14 - Reply

    Que lindo texto! Parabéns Júlia! Está tudo lindo por aqui! adorando as colunas, adorando as imagens, seu trabalho é genial!

    • Júlia Mª Pereira Alves 19 de março de 2015 at 10:44

      Obrigada Maria, Fico super feliz por saber!
      Seja super bem vinda!!!

  4. Ana Paula Oliveira Rocha 19 de março de 2015 at 10:04 - Reply

    Muito bom o relato
    passo por isso também, mas do lado contrario. Tenho muita dificuldade em emagrecer, começo a parar de comer tudo que gosto e quando percebo já estou tão triste e frustrada que acabo me esbaldando num dia de chocolate. Minha médica disse que se eu comer uma barrinha de vez em quando não tem problema, melhor do que um dia de chocolate, mas quem disse que eu consigo? A culpa de ver as pessoas magrinhas do meu lado é pior!

    • Júlia Mª Pereira Alves 19 de março de 2015 at 10:46

      Engordar e emagrecer com saúde é importante! Mas sempre esquecemos que saúde física se completa com saúde psíquica! Não é verdade?
      Obrigada por participar, Ana Paula, seja bem vinda!
      Um abraço

  5. Vicente 17 de março de 2015 at 15:02 - Reply

    Adorei o site, vocês estão de parabéns. Tetxo muito bom! :-)

    • Júlia Mª Pereira Alves 19 de março de 2015 at 10:46

      Obrigada Vicente! Seja muito bem vindo!!