Adolescência: Um momento crítico
A adolescência é tida como a fase mais complicada do ciclo desenvolvimental, um momento crítico. Ela impacta não apenas o próprio indivíduo como também àqueles com quem convive. Não à toa que essa é uma fase que remete à ‘explosão’ de hormônios, humor, espinhas, sexualidade e até de pensamentos explosivos! Definitivamente o Sistema Nervoso está muito relacionado a esse processo.
Em suma, a adolescência começa no hipotálamo. Que é uma região bem no centro do cérebro que é responsável por controlar o funcionamento do corpo em busca da homeostase, porém, essa fase de adequação, por um bom tempo, assemelha-se mais a um desequilíbrio. O hipotálamo dá o sinal de que a ultima fase de alta plasticidade cerebral está na hora de acontecer, fase de concluir o projeto humano. Claro que após a conclusão, como todo projeto, pode sofrer adaptações e mudanças ao longo da implementação. Mas, é esse o momento em que o esquema está sendo fechado.
A mudança comportamental do adolescente decorre das transformações que estão ocorrendo não só no corpo, mas principalmente no sistema nervoso. A maturação do cérebro envolve mudanças na forma de pensar (cognitivas), de experienciar as emoções e nos comportamentos, afetando os processos de tomada de decisão. E, justamente por ser uma fase crítica, coincide com o período provável para o aparecimento de vários transtornos de humor, ansiedade, personalidade, alimentares e uso e abuso de substâncias psicoativas.
O cérebro adolescente
O cérebro de um pré-adolescente já está aparentemente como um cérebro adulto, levando-se em consideração o tamanho e aspecto, mas ele ainda vai passar por uma série de transformações sutis que podemos comparar a um processo de lapidação. Vários estudos já constataram que na adolescência há um afinamento da substância cinzenta (aglomerado de copos neuronais). No entanto, essa perda vem acompanhada de um aumento de substância branca (relé de comunicação) indicando que o cérebro melhora na sua funcionalidade, ele não fica mais robusto e sim com mais conectividade.
Partes destinadas a diferentes funções acabam ficando mais integradas e o trabalho flui de forma mais colaborativa. E é nessa fase que começa a se desenvolver a habilidade de tomar decisão baseada em vários tipos de informações. É um árduo trabalho se posicionar no mundo visando suas habilidades e dificuldades, agindo de acordo com o contexto, com as próprias expectativas e as expectativas familiares e sociais.
Para que essas transformações aconteçam, as redes neurais que são muito utilizadas e tem um resultado efetivo, amadurecem e as redes pouco utilizadas são abandonadas. Esse processo não ocorre uniformemente. A maturação inicia nas áreas mais antigas e profundas, próximas ao tronco cerebral, rumo às áreas mais recentes.
Assim sendo, o aprimoramento se dá primeiro nas áreas da linguagem e processamento das emoções, atingindo por ultimo áreas relacionadas ao pensamento mais complexo e à tomada de decisão. Isso explica porque o início da adolescência é marcada por mudanças comunicacionais e emotividade intensa – que depois tende a ser melhor controlada, quando a área mais frontal e mais recente do cérebro atinge o amadurecimento, pois é a região envolvida com o autocontrole, tomada de decisões baseada em metas. A reorganização cerebral aparece na forma de comportamentos, às vezes, descontínuos, incoerentes e desajustados, mas que vão sendo aprimorados aos poucos.
A desmotivação do Adolescente
A perda de interesse nas coisas e desmotivação são características também marcantes no início da adolescência. Esse ponto causa muito desconforto, afinal dá a entender que nada é suficiente ou que o adolescente está fazendo esforço para chatear os demais. Porém, existe toda uma lógica biológica por trás. Nessa fase, um conjunto de estruturas cerebrais conhecido como sistema de recompensa, diminui a sua sensibilidade cerca de 30 a 50%. O sistema de recompensa faz uso da dopamina, um neurotransmissor para “contar” que o comportamento deu certo ou tem grandes chances de alcançar o que se almeja – levando à sensação de bem-estar e prazer. Esse é o circuito responsável pela motivação. O resultado disso é que coisas que antes davam prazer e motivavam deixam de alcançar o nível de excitação no cérebro.
Logo, o adolescente precisa de mais estímulos para se sentir motivado. Este fato está associado à tendência de envolver-se em situações de risco e na busca pelo novo e inusitado. Apesar do desconforto e das consequências geradas por tais comportamentos, existe uma grande razão nisso tudo: Dessa forma os hábitos infantis podem ser abandonados e a pessoa é impulsionada à busca de novos interesses que irão contribuir para sua atuação na vida adulta.
“É apenas uma fase”
A “reatividade emocional” somada ao “pouco controle” e a “maior exposição ao risco” parece ser a receita perfeita para a catástrofe. Mas, é apenas uma fase em que o Sistema Nervoso está se desfazendo do que não serve mais, se ajustando à nova representação do corpo em fase de crescimento. Dando espaço para a construção de uma vida adulta que têm exigências próprias.
É uma fase difícil, mas muito importante e exige dos responsáveis o conhecimento do que vem a ser o processo de amadurecimento da adolescência, jogo de cintura e muita conversa que instigue reflexão.
O desenvolvimento do pensamento que se torna mais abstrato, mais interconectado e crítico depende não só das mudanças no sistema nervoso, mas também das pressões ambientais. É por isso que a atitude dos adultos diante dos adolescentes também precisa ser modificada, passa-se do direcionamento (como é feito na infância) para o monitoramento. Pois, agindo com mais autonomia e feedbacks constantes é que o indivíduo, através da sua atuação vai trabalhar o autocontrole, atingir uma capacidade de planejamento e tomada de decisão consciente. É um momento de experimentar, através de tentativas e erros. Provavelmente terão tropeços (como toda aprendizagem), mas também conquistas, que por serem mais subjetivas deixam de ser reconhecidas!
Nathalia Santos da Costa
Psicóloga e mestre em Neurociências pela UFMG, pós graduada em Neuropsicologia pela FUMEC. Experiência clínica em atendimento psicoterapêutico, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.
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Ótima matéria.
Obrigada Cristiane! =)