Recentemente vimos o fenômeno dos livros de colorir atingir um amplo e diverso público. Seja em relação à faixa etária, sexo, escolaridade e até nível socioeconômico. Agora com o furor já reduzindo é importante entender por que essa é uma atividade que deveria ser mantida e não só tratada como uma “moda”.
Os livros para colorir chegaram ao público como uma proposta de ser uma atividade relaxante ou combater o estresse. De fato, a prática de colorir pode propiciar um momento de calma na medida em que a pessoa para um momento (mesmo que curto) para uma atividade que não tem qualquer outro objetivo do que se dedicar a uma tarefa prazerosa.
Na incapacidade das pessoas do mundo moderno de dedicarem um tempo para si, esse recurso do desenho para colorir, surge como um escape da rotina imperativa da vida. E isso já é um bom começo para entrar em contato com as sensações, deixar a mente mais livre das obrigações e estímulos estressantes. Se a pessoa enxerga a atividade como lúdica e ainda consegue ir além da proposta de finalizar uma atividade, conseguindo uma interiorização e uma espécie de encontro consigo mesmo, então, os cadernos para colorir podem ter um potencial terapêutico e antiestresse.
A Neuropsicologia explica os livros de colorir!
No entanto analisando a atividade de colorir e como o cérebro se ativa para exercer essa tarefa, percebe-se que os benefícios podem ir para além da proposta relaxante e atuar de forma positiva em diversas funções cognitivas.
Diante de um desenho complexo é preciso primeiramente ter concentração: focar a atenção ao padrão geral do desenho, o que chamamos na neuropsicologia de percepção, nesse caso, através do sentido da visão. Também é preciso ter atenção aos pontos específicos de forma a planejar o colorido de uma forma harmônica.
O planejamento, na verdade, é um dos aspectos das funções executivas que podem estar envolvidas ao colorir esses livros. Funções executivas são definidas por Malloy-Diniz et al. (2008, p.187) como:
“conjunto de processos cognitivos que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar comportamentos a metas, avaliar eficiência e adequação desses comportamentos, abandonar estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse modo, resolver problemas imediatos, de médio e longo prazo”.
De certa forma, embora pareça uma atividade simples, essas atividades de colorir envolvem uma série de decisões quanto ao padrão de cores, pressão do lápis, direção do colorido, etc. e tudo vai sendo monitorado e avaliado. Tanto é dessa forma, que o padrão dos desenhos tende a ir melhorando com a prática. Isso é muito bom já que as funções executivas são muito exigidas no nosso dia a dia e, através dos livros, podemos treiná-las brincando.
Outras funções estimuladas pelos livros de colorir são a noção espacial e coordenação motora, que na neuropsicologia chamamos de praxia e visuoconstrução que “se referem às habilidades que permitem executar ações voltadas a um fim no plano concreto, através da atividade motora” (Zuccolo, Rzezak & Góis, 2010, p.115). Antes de efetuar o desenho seus elementos são reunidos mentalmente de forma a alcançar um produto final que depois é executado no plano material.
Por fim, sabemos que o cérebro, assim como o músculo, depende do exercício para se manter “forte”. E quando a tarefa demanda uma ativação de funções e áreas diversas do cérebro, ela ainda atua para a conectividade neuronal. Isso leva a um aumento da velocidade das respostas aos estímulos ambientais, que chamamos de velocidade de processamento. Ou seja, além de aprimorar as funções citadas e do potencial antiestresse essa prática pode estar contribuindo para um pensamento mais ágil.
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Autor(a):
Nathalia Santos da Costa – Psicóloga e mestre em Neurociências (UFMG), pós graduada em Neuropsicologia (FUMEC). Experiência clínica em psicoterapia, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.
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Nathalia Santos da Costa
Psicóloga e mestre em Neurociências pela UFMG, pós graduada em Neuropsicologia pela FUMEC. Experiência clínica em atendimento psicoterapêutico, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.
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