Neuropsicologia | Infância e Adolescência
Por que o recém nascido demanda cuidado redobrado?
Por que é importante monitorar o desenvolvimento do recém-nascido?
A notícia da chegada de um bebê é sempre motivo de grande mobilização para as famílias. A gestante e o recém nascido inspiram um cuidado especial, e isso tem toda razão de ser: o ser humano, ao nascer, é extremamente dependente. Logo, ele possui um longo processo de amadurecimento até adquirir habilidades básicas para sua autonomia.
Se comparados a outras espécies, nascemos com menos recursos imediatos para a sobrevivência. No entanto, essa “desvantagem” permite que o desenvolvimento humano seja moldado pelo ambiente, o que nos torna mais adaptáveis às diversas demandas do meio em que vivemos.
Os órgãos de saúde reforçam a importância de monitorar a gestante, o recém nascido e a criança na primeira infância. Qualquer intercorrência nesse período pode ter impacto significativo no desenvolvimento, podendo resultar em transtornos comportamentais, de aprendizagem ou de neurodesenvolvimento.
Muitas situações neuropsiquiátricas podem ter sua origem nas primeiras fases do desenvolvimento. Esse é um período de intenso amadurecimento do nosso sistema nervoso, centro de comando do corpo e que faz a intermediação do indivíduo com o seu ambiente externo.
Fatores que podem comprometer o desenvolvimento do bebê
Brites (2014) enumera condições que podem levar a dificuldades de ordens neurocomportamentais:
Condições como TDAH, autismo, deficiência intelectual e transtornos psiquiátricos podem ter componentes genéticos. Contudo, é importante destacar que a genética não determina, de forma rígida, o futuro do bebê. Fatores ambientais e as interações com o meio também desempenham um papel crucial.
Nem todas as condições genéticas são hereditárias. Algumas decorrem de erros na combinação cromossômica, como em casos de síndromes genéticas ou malformações congênitas (Brites, 2014).
A saúde da mãe é um dos principais determinantes do desenvolvimento fetal. Alimentação inadequada, uso de álcool ou drogas, infecções, exposição a substâncias tóxicas (como chumbo e mercúrio), entre outros, podem trazer consequências para a criança, como dificuldades motoras, cognitivas e sociais (WHO, 2022).
Um exemplo recente é a relação entre o Zika vírus e casos de microcefalia. Outras condições, como exposição a reagentes químicos no ambiente de trabalho, também podem representar riscos importantes para o bebê.
O momento do parto é crítico. Complicações, como falta de oxigênio (anoxia), podem causar lesões cerebrais com consequências graves. Por isso, é essencial que o parto seja acompanhado por uma equipe médica qualificada, garantindo uma transição segura para o bebê e minimizando os riscos de complicações (Silveira et al., 2018).
Os três primeiros anos de vida são marcados por intensas mudanças no sistema nervoso. Durante esse período, é fundamental evitar situações que possam comprometer o desenvolvimento, como quedas, desidratação, desnutrição, febres altas, infecções ou engasgos (broncoaspiração). Esses fatores podem ter impactos negativos no desenvolvimento cognitivo e motor da criança (Brites, 2014).
Primeira infância: um período de oportunidades
Apesar das possíveis preocupações, a primeira infância é também uma fase de grande potencial. O cérebro infantil possui uma alta capacidade de neuroplasticidade, ou seja, pode se moldar e se adaptar a novas condições e experiências (Kolb & Gibb, 2017).
A identificação precoce de situações adversas é crucial para iniciar tratamentos que ofereçam resultados positivos. Mesmo em condições irreversíveis, como a paralisia cerebral, intervenções adequadas podem melhorar significativamente a qualidade de vida e a autonomia da criança.
A importância de um acompanhamento profissional
A fase de formação inicial, embora delicada e cheia de desafios, é também um momento rico em possibilidades. Muitas vezes, os pais são inundados por conselhos e “lendas” populares. Apesar de bem-intencionados, esses conselhos nem sempre são úteis ou precisos.
Por isso, contar com o suporte de profissionais qualificados é essencial. Eles podem ajudar a esclarecer dúvidas, orientar os cuidados necessários e assegurar que a criança tenha as melhores condições para um desenvolvimento saudável.
Referências
- Brites, S. A. (2014). Desenvolvimento Neuropsicomotor: Aspectos Clínicos e Neuropsicológicos. São Paulo: Editora Segmento.
- Kolb, B., & Gibb, R. (2017). Plasticity in the developing brain: Cognitive and behavioral outcomes. Developmental Review, 45, 30-40.
- Silveira, M. F., et al. (2018). Impact of perinatal complications on child development: A cohort study in Brazil. Journal of Pediatrics, 94(6), 663-670.
- World Health Organization (WHO). (2022). Guidelines on antenatal care and child development monitoring. WHO Publications.
Nathalia Santos da Costa
Psicóloga e mestre em Neurociências pela UFMG, pós graduada em Neuropsicologia pela FUMEC. Experiência clínica em atendimento psicoterapêutico, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.
Muito bem colocado: “… que nem tudo que é genético é hereditário”.