O adolescente, como já se sabe, vive um período de intensas transformações. Transformações que são tanto físicas, quanto psicológicas e neurológicas.
São muitas as mudanças físicas que ocorrem nesta fase. Algumas são de ordem fisiológica, hormonais e neurológicas, outras são muito visíveis, como o desenvolvimento do corpo. Logo, mudanças que interferem diretamente na relação do sujeito com seu próprio corpo. Bem como, com a imagem pessoal, as relações sociais e até com o estado psicológico do indivíduo. Esse ponto do corpo é muito significativo, pois expõe o indivíduo diretamente às questões do encontro com a sexualidade, o que, por si só, tem muito potencial traumático. Especialmente quando esse jovem não tem um espaço seguro para dialogar e tirar suas dúvidas.
A imagem de si também passa por transformações. Aquele ser deixa de ser e responder como uma criança. E com isso surgem novas demandas, novas regras e novos desejos também. Mas, claramente, ainda não sendo um adulto, conta com liberdades ainda limitadas diante de um desejo de explorar grande. O adolescente vive um enorme conflito.
É o momento de explorar o mundo! Tanto o mundo real quanto das ideias!
Tantas transformações e conflitos podem gerar um sentimento de insegurança muito grande no adolescente. Fazendo com que se preocupe em buscar novas referências com as quais se identifica e trazem alguma segurança.
O jovem nessa busca, acaba por tentar se desprender um pouco mais dos laços familiares. Talvez, acreditando que estabelecendo novos vínculos sociais poderá se expressar e ser aceito. Deixa-se influenciar muito mais pela lógica dos grupos. Pois eles permitem, ao mesmo tempo, alguma unidade e senso de pertencimento pelas características comuns a todos os membros. Bem como, a possibilidade de reconhecer e trabalhar as diferenças.
O adolescente e as relações familiares
Os adolescentes entram em uma relação dinâmica, confrontando-se continuamente com o mundo externo e com a própria interioridade. Testando limites entre o autorizado e o vetado, entre a obediência e a transgressão.
Como as mudanças que ocorrem com o adolescente interferem na dinâmica familiar, são comuns neste período as crises familiares. Podendo até mesmo vir a afetar a relação entre os pais. A necessidade de demonstrar poder por parte dos pais e a inflexibilidade e senso de independência do adolescente, podem causar um conflito muito comum nessa fase nas famílias.
Muitas vezes, os pais demoram a perceber que o filho está crescendo, deixando de ser a criança que antes era. Por conta disso, acabam por travar uma batalha. Uma disputa de forças. A fim de que a autoridade não se perca, mas sem perceber que ela pode apenas transformar-se, dando ao adolescente o afeto e carinho necessários para a estruturação de uma adolescência saudável.
Os pais precisam aceitar a ideia de que seu filho está se tornando um adulto. Estão adquirindo mais autonomia e buscando novas ligações sentimentais e novos papéis sociais. O reconhecimento e o respeito pelas transformações podem trazer ao adolescente um ambiente que cause menos repulsa e favorável ao diálogo.
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A necessidade do adolescente de demonstrar o próprio valor a si mesmo e aos outros parece estar ligada à vontade de se arriscar e de superar limites. Não é incomum neste período, se desejar viver no “tudo ou nada”, intensificando suas emoções ao máximo. Não se contentando com o meio termo. Por isso há intensa frustração quando ele se depara com a realidade de não poder ser tudo. E dará um longo passo quando conseguir reconhecer que as possibilidades são abertas, mas a realização de algumas, impossibilita outras.
Estabeleça diálogo e limites
Os limites podem ajudar o adolescente a desenvolver um autoconhecimento, onde ele possa expressar seus sentimentos de forma adequada. Através do equilíbrio entre o afeto e o limite, o adolescente parece enfrentar melhor os problemas que a vida traz. Uma atitude orientadora e disponível por parte dos pais, cria cenários melhores. A prática do diálogo ainda é uma das melhores maneiras de atravessar esta fase.
O indivíduo que é comumente chamado de “aborrecente”, forma violenta de se referir à idade, carrega consigo a imagem negativa de estar passando por um período rebelde e revolucionário. De “por quês”, “como” e “quando”. Fazendo com que as pessoas ao seu redor evitem conversas e discussões sobre temas importantes, deixando muitas questões sem respostas. Infelizmente, e acabam por isolar o adolescente em seu mundo, o que não contribui em nada na aquisição e reorganização de sua identidade, bem como das regras para viver em sociedade.
Andreia Rodrigues Leite
Psicóloga Clínica. Pesquisadora USP, formanda em Tanatologia (lutos e perdas). Coautora do livro "Tanatologia - Temas Impertinentes, Org. Aroldo Escudeiro, LG Edit. e Gráfica - 2011 ", com o tema "Quando o amor adoece". (Fornecido pelo autor)