A maioria dos brasileiros permaneceria em silêncio caso presenciasse uma prática antiética no ambiente de trabalho. Pelo menos é o que aponta uma pesquisa do CPDEC (Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação Continuada), em parceria com o NEIT (Núcleo de Economia Industrial e Tecnologia da Unicamp), que ouviu mais de 800 funcionários de empresas públicas, privadas e de capital misto.

Segundo o estudo, nada menos que 90% dos profissionais se calariam diante de uma conduta inapropriada. O dado é significativo — sobretudo em um momento em que as discussões sobre ética ganham fôlego na sociedade brasileira. As razões para essa escolha vão desde o medo de retaliação por parte de gestores e colegas até a convicção de que nenhuma medida corretiva seria aplicada.

Ética profissional: Maioria dos funcionários não reporta atitudes antiéticas

De acordo com a pesquisa “Ética nas Organizações”, atitudes antiéticas não são denunciadas principalmente por dois motivos: o temor de retaliação por parte de colegas ou gestores (97%) e a descrença de que medidas corretivas seriam tomadas (94%). Além disso, 92% dos respondentes mencionam o receio de que a confidencialidade não seja mantida, mesmo quando a empresa oferece canais anônimos para tais denúncias.

Confira outros dados da pesquisa:

  • 66% das empresas disponibilizam ferramentas para que funcionários denunciem situações anonimamente.
  • 76% das empresas possuem código de ética.
  • 85% dos entrevistados acreditam que os direitos trabalhistas tendem a ser respeitados.
  • 90% das companhias manipulam dados, relatórios ou informações financeiras para mascarar seus próprios resultados.
  • 55% dos funcionários acreditam que as empresas adotam comportamentos inadequados, tendenciosos ou baseados em interesses pessoais nos processos de seleção, promoção ou desligamento de colaboradores.
  • 41% dos respondentes relataram que suas empresas já propuseram, ao menos uma vez, reuniões em locais impróprios.
  • 85% dos entrevistados afirmam que as organizações praticam algum tipo de discriminação (racial, social, sexual, etária ou relacionada a doenças).
  • 51% dos funcionários acreditam que as companhias mentem para clientes, fornecedores e para o público em geral.
  • 62% dos profissionais já presenciaram o uso indevido de recursos materiais da organização para fins pessoais.
  • 59% disseram ter observado, pelo menos uma vez, roubos ou furtos no ambiente de trabalho.
  • 20% relataram práticas de bullying, assédio moral ou sexual.

Por fim, o estudo abordou a percepção da sociedade sobre diferentes setores. As organizações de capital misto e autarquias são vistas de forma mais negativa: 81% dos entrevistados acreditam que houve aumento de condutas antiéticas nesses setores nos últimos cinco anos. Já nas organizações públicas, 69% compartilham dessa visão, enquanto nas empresas privadas, a porcentagem cai para 32%.

A análise dos resultados mostra que, mesmo tendo havido avanços nos últimos anos — como a implementação de códigos de ética —, ainda há um longo caminho a ser percorrido nesse campo”, conclui Rodnei Domingues, diretor do CPDEC e um dos coordenadores da pesquisa.

Conclusão

Esse estudo revela um cenário preocupante sobre a ética profissional e o ambiente corporativo brasileiro. Para além das demandas excessivas e abusivas, o silêncio diante de práticas antiéticas reflete o medo de retaliação e uma descrença generalizada na efetividade dos mecanismos de denúncia.

A cultura organizacional desempenha um papel crucial nesse processo. Empresas que apenas adotam códigos de ética sem garantir um ambiente seguro para denúncias acabam perpetuando condutas inadequadas. Além disso, os números mostram que problemas como manipulação de dados, discriminação e até mesmo assédio são mais comuns do que se imagina. Sem falar no fato de que essa dinâmica é um estressor severo para a saúde mental dos trabalhadores.

O desafio, portanto, não é apenas criar diretrizes éticas, mas garantir que elas sejam efetivas na prática. Isso envolve proteger denunciantes, assegurar transparência nos processos e, principalmente, promover uma cultura que valorize a integridade acima dos interesses individuais ou institucionais. Afinal, a ética no trabalho não deve ser uma questão de escolha, mas um compromisso coletivo.

Adaptado da fonte: Claudia Gasparini (Exame) e CPDEC (Link pesquisa)

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