Separação: Uma sociedade de relações líquidas – que escapam pelos dedos!
Há um sociólogo Polonês, chamado Zygmunt Bauman, que diz estarmos vivendo em uma sociedade moderna líquida, onde as relações se encontram cada vez mais fragilizadas. Ela é líquida exatamente por essa fluidez, onde o atar e desatar-se fazem e se desfazem com grande facilidade. Em meio a esse dinamismo, não nos surpreendemos ao percebermos uma tendência à desvinculação, à descontinuidade e ao esquecimento. Nesse contexto surge a pergunta: como ficam as relações com a figura paterna, em um contexto de divórcio/separação? Essa é uma questão complexa, sob a qual desejo orientar essa reflexão.
Para dar sequência ao rumo da discussão proposta acima, precisamos pensar em outra pergunta.: Quais são os impactos do fim da relação conjugal para a relação parental? Temos aqui um importante tópico para refletirmos a respeito. Quando a família, em processo de separação, também é composta por filhos, jamais deve-se pensar na separação como o fim daquela família. Na verdade, o que ocorreu foi uma transformação, ou a sua reconfiguração. É evidente que essa mudança se desdobra em uma infinidade de possibilidades, mas o laço parental permanece. Como certa vez, quando o Pai Criativo explicou à sua filha mais nova que a separação entre ele significava que a partir daquele momento ela não teria somente mais uma casa e sim duas. Uma para estar com ele e outra para estar com a mãe, garantindo-lhe que ambas seriam o seu lar, tanto quanto aquela casa onde moravam antes da separação.
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Outra situação muito recorrente, que demanda grande atenção dos pais, é garantir que as crianças não participem de um conflito que não lhes diz respeito! Tanto a separação, quanto os motivos que os levaram a não permanecerem juntos, quanto as novas relações nas quais os pais se envolverão não dizem respeito à criança, embora no último caso é muito importante que se trabalhe, muito cuidadosamente, o estabelecimento de vínculos entre os filhos e os novos parceiros, que podem vir a se tornar um dia seus padrastros ou madrastras.
Nem sempre o Pai Criativo sai de casa feliz, ou conformado com a separação, mas jamais ele seria capaz de fazer de seus filhos instrumentos para projetar sua raiva da ex mulher. Muito pelo contrário, ele é capaz de amá-los ainda mais e dedicá-los ainda mais cuidado e afeto, o qual, embora não espere retribuição por expressar, sempre estará de braços e coração abertos para receber de volta!
Diante disso, é muito importante que os pais tenham alguns cuidados adicionais durante esse processo. Embora não seja a única alternativa, é muito mais comum que as crianças permaneçam morando com as suas mães, após a separação. Nesse processo, é fundamental que o ex-casal esteja empenhado em garantir o bem estar dos filhos. De modo que, a despeito dos problemas entre eles, sejam capazes de conversar, constantemente, com o objetivo de tomar todas as decisões (ou, ao menos quantas possíveis), referentes á criação e educação das crianças, compartilhadamente.
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Certa vez, em um caso não tão comum (tal como é próprio do Pai Criativo), após a separação, as crianças foram morar com o pai. Ele trabalhava menos tempo e tinha maior disponibilidade para cuidar dos filhos. Contudo, seja para escolher onde os filhos estudariam, ou em qual pediatra os levaria, ou mesmo algumas decisões pequenas do dia-a-dia, o Pai Criativo fazia questão de envolver a mãe, que também sentia-se muito bem por participar.
Por todos esses motivos, o Pai Criativo saúda a todos os pais, que buscam cotidianamente tornarem-se mais presentes, mais afetuosos e mais atuantes no desenvolvimento de suas crianças. Não há barreiras entre filhos e pais, que cuidam bem de suas relações. Muito pelo contrário, é assim que juntos eles conseguem vencer os mais diversos limites de uma sociedade que está em constante processo de superação de paradigmas. Para assim, ao contrário do amor líquido (e volátil), alimentarem um amor cada vez mais sólido na família. Independente de ter havido qualquer tipo de separação.
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Autoria do texto
Pablo Ferreira Bastos Ribeiro
Graduado em Psicologia pela PUC Minas. Mestre e doutorando em Psicologia pela UFMG. Experiência nas áreas de Psicologia Social e Psicologia Clínica. (31)98738-0377/pablo@dialogopsi.com.br
Muito bom o artigo.
Obrigada pelo comentário, Luiz!
Equipe Diálogo Psi