O conceito de “ato falho” foi apresentado por Freud ao abordar o inconsciente. Em síntese, os atos falhos são tropeços que escapam de nós e revelam uma verdade, por vezes surpreendentes. Eles se manifestam como algo inesperado — seja na fala, na memória ou nas ações — e carregam um significado que desconhecemos ou ignoramos. Por exemplo, quando uma palavra escapa de minha boca e, ao tentar dizer algo, acabo dizendo outra coisa; ou quando troco o nome de alguém; ou até mesmo quando esqueço uma data que sempre costumo lembrar.

Freud explicou que o ato falho está intimamente ligado ao inconsciente, funcionando como uma de suas formas de expressão. É aquilo que nos pega de surpresa, nos expõe ao nosso avesso, que nos “trai” ao dizer ou fazer o oposto do planejado. Esses momentos podem levar à pergunta: “Que relação isso tem comigo?”

O ato falho evidencia uma certa estranheza em nós mesmos. O inconsciente, segundo Freud, é como um estranho que habita nossos espaços mais íntimos e familiares. Ele é o desconhecido dentro de nós — algo que nunca se esgota e que continua a nos interpelar.

O INCONSCIENTE E OS ATOS FALHOS *

Por: Diêgo Santos Gonçalves

O Inconsciente e os Atos Falhos

A suposição de uma atividade mental inconsciente foi o ponto de partida que permitiu a Freud elaborar toda a teoria psicanalítica. Diversos fenômenos o levaram a sustentar a existência do inconsciente, e um deles é particularmente interessante — além de divertido — por ser facilmente observado em nosso dia a dia: os atos falhos.

Ao compreender o real significado dos atos falhos, percebemos como o inconsciente pode “trair” um indivíduo, revelando suas verdadeiras intenções, muitas vezes desconhecidas até por ele mesmo.

O que são os atos falhos?

Os atos falhos consistem em pequenos lapsos, como esquecimentos de nomes, datas ou compromissos, e erros em ações ou falas. Em resumo, são interferências que alteram o curso planejado ou esperado de um comportamento, daí o nome “ato falho”.

Antes de Freud, e até hoje entre aqueles que desconhecem a psicanálise, esses pequenos erros eram vistos como simples equívocos, “coisas sem querer”, sem maior importância e atribuídos ao descuido ou ao acaso. Contudo, em seu livro “Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana”, Freud demonstrou que até os erros mais banais possuem um sentido oculto e revelador.

Ato falho: “Sem querer querendo”

Para ilustrar o conceito, Freud apresenta exemplos curiosos. Em um deles, um senhor conversava com uma jovem sobre os preparativos de Páscoa em Berlim e comentou: “Viu a loja Wertheim? Está toda decotada… oh, quis dizer decorada!”.

Embora pareça um erro trivial, Freud interpretou esse desvio como uma manifestação inconsciente. O senhor, possivelmente impressionado pelo decote da jovem, teve seus pensamentos reprimidos irrompendo na fala. Para ele, e para quem ouviu, o erro poderia ser tratado como algo sem importância, mas, sob a ótica psicanalítica, revela algo mais profundo.

Outro exemplo está relacionado a um professor de medicina conhecido por sua arrogância. Durante uma aula sobre cavidades nasais, ele perguntou aos alunos se haviam entendido a matéria. Após a confirmação da turma, disse: “Mesmo em Viena, com seus milhões de habitantes, os que entendem de cavidades nasais podem ser contados num dedo… quero dizer, nos dedos das mãos.” Nesse caso, o inconsciente traiu o professor, revelando sua crença de que, na verdade, ele era o único especialista de mérito na área.

A irrupção do inconsciente

Os atos falhos mostram como o inconsciente pode romper as barreiras impostas pela censura social. Muitas vezes, não dizemos tudo o que queremos devido às normas de convivência. Porém, mesmo suprimidos, pensamentos e desejos inconscientes resistem e encontram caminhos para emergir, como nos atos falhos.

Em alguns casos, o significado dos atos falhos é claro e pode ser reconhecido prontamente por quem o comete. Em outros, os conteúdos ocultos são mais complexos, dotados de profundo valor afetivo, e difíceis de identificar.

Freud ressaltou que quase todo erro tem um significado oculto. No entanto, há exceções. Por exemplo, lapsos podem ocorrer devido a um alto investimento psíquico em outras preocupações. Uma pessoa muito ansiosa com uma reunião importante pode esquecer de buscar o filho na escola. Esse esquecimento, nesse contexto, pode não estar relacionado ao inconsciente, mas à sobrecarga emocional.

Conclusão

Os atos falhos são uma das formas mais acessíveis e cotidianas de observar a atuação do inconsciente. Eles nos revelam que há muito mais em nossos pensamentos e ações do que aquilo que percebemos à primeira vista. Afinal, o inconsciente não apenas habita nosso interior, mas frequentemente insiste em se fazer ouvir, mesmo que por meio de pequenos tropeços da mente.

* Texto adaptado para SEO a partir do original: O alicerce da Psicanálise

Autor(a)

Julia Maria Alves

Psicóloga (UFMG/2009) com especialização em Clínica Psicanalítica (IEC-PUC MG/2020) e Gestão de Pessoas (FDC/2012)). Hoje atua com Psicoterapia, Orientação Profissional de jovens e Orientação Vocacional na Aposentadoria.

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Julia Maria Alves

Psicóloga (UFMG/2009) com especialização em Clínica Psicanalítica (IEC-PUC MG/2020) e Gestão de Pessoas (FDC/2012)). Hoje atua com Psicoterapia, Orientação Profissional de jovens e Orientação Vocacional na Aposentadoria.

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