10 de Setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, por isso, ao longo do mês, diferentes atividades marcarão a data nos convidando a pensar sobre a importância de preservar a vida e de estar atento aos sentimentos de quem está por perto.
A ideia de “prevenção” aqui colocada, pode ser compreendida como a redução das chances de efetivação do ato suicida, além do reconhecimento e acolhimento a uma pessoa em sofrimento e com ideação suicida. Mas, para isso, antes de mais nada, precisamos quebrar um tabu, vamos falar sobre o Suicídio, e por mais desconfortáveis que as informações a seguir lhe pareçam, fazer com que elas circulem pode ajudar alguém a identificar e evitar que quem se ama venha a se machucar ou tentar tirar a própria vida.
Olha só a dimensão do problema!
O Suicídio é uma questão de saúde pública, digo isso por que ele ganha impulso a cada ano, tanto em termos numéricos, como de impacto. Estes são alguns dados da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde do Brasil para compreendermos a dimensão do problema:
- Segundo a OMS, mais de 700 mil morrem por ano por suicídio. Para cada suicídio há muito mais pessoas que tentam o suicídio. Ou seja, a cada 40 segundos, aproximadamente, uma pessoa comete suicídio no mundo e a cada 3 segundos uma pessoa faz uma tentativa de pôr fim a própria vida.
- Em 2019, o Brasil contabilizou 13.523 suicídios (8º país no mundo com maior índice).
- Entre homens, a taxa de mortalidade por suicídio em 2019 foi de 10,7 por 100 mil, enquanto entre mulheres esse valor foi de 2,9.
- O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos. E nos últimos 45 anos, a mortalidade global por suicídio vem migrando em participação percentual do grupo dos mais idosos para o de indivíduos mais jovens (15 a 45 anos). E ainda, nesses indivíduos, o suicídio é a sexta causa de incapacitação.
Embora pouco se fale a respeito, o suicídio é mais comum do que se supõe. O número de casos também aumentou significativamente em povos indígenas, especialmente entre os jovens. Vamos tentar esclarecer alguns pontos, como as causas e os principais fatores de risco.
Quem está em risco?
Antes de tudo, podemos dizer que não existe uma causa ou razão única para o comportamento suicida, ele é resultado de uma complexa interação de fatores (biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais). Não é tão simples explicar o porquê de algumas pessoas decidirem pôr fim em suas vidas, enquanto outras em situação similares não o fazem. Contudo, existem fatores que podemos procurar na história de vida e no comportamento que podem indicar se essa pessoa apresenta maior risco de cometer uma tentativa suicida, especialmente quando apresenta mais de um deles combinados.
Geralmente, o suicídio parece estar relacionado a problemas de saúde mental, ao abuso de drogas lícitas e ilícitas, podendo existir, também, ligação com doenças físicas crônicas ou doenças terminais. Contudo, é importante também levar em consideração fatores como histórico de suicídio na família, problemas pessoais e eventos estressantes (Instabilidade financeira; Questões familiares; Separações; Vivenciar conflitos, desastres, violência, abuso ou perda significativa; Situações de bullying, etc.), pois muitos suicídios acontecem impulsivamente em momentos de crise, com colapso na capacidade de lidar com estressores.
Além disso, as taxas de suicídio também são altas entre os grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como refugiados e migrantes; Pessoas indígenas; lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais (LGBTQIAP+); e prisioneiros.
E, diante de todos esses fatores citados acima, deve-se manter um olhar mais sensível às mudanças de comportamento, especialmente se já houve tentativas de suicídio prévias. De longe, o fator de risco mais forte para o suicídio é uma tentativa de suicídio anterior. Fique atento à:
- Mudanças no comportamento, como irritabilidade, pessimismo, humor deprimido, apatia, etc.;
- Sentimentos de ódio voltados à si mesmo, de culpa, desvalor, vergonha, auto recriminações, etc.;
- Sentimentos persistentes de solidão, impotência, desesperança; Sensação de isolamento;
- Menções repetidas sobre morte ou suicídio;
“Quem quer se matar não avisa”
Opa! Não é bem assim, pois pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam, já haviam comunicado de alguma maneira seus pensamentos e intenções suicidas. Frequentemente, elas dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer” ou ter um “sentimento de não valer pra nada”. Mas, o principal problema é que muitos ignoram e banalizam esses indícios e tratam as pessoas com preconceito e julgamento: “Frescura” “Bobeira” “É um fraco“, etc. Esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados.
- “Eu preferia estar morto”.
- “Eu não aguento mais”.
- “Eu sou um perdedor e um peso pros outros”.
- “Os outros vão ser mais felizes sem mim”.
Fique atento às frases de alerta, pois nelas estão escondidos sentimentos de pessoas que podem estar em grande sofrimento e com ideação suicida.
Então, o que fazer ao identificar sinais de intenção suicida?
- Ouvir, mostrar empatia e ficar calmo. Ser afetuoso e dar apoio.
- Levar a situação a sério e verificar o grau de risco. Se o risco for alto, permanecer ao lado da pessoa.
- Identificar outras formas de apoio emocional em situações de emergência, por exemplo, LIGAR PARA o CVV (Centro de Valorização da Vida) – LIGAR 188.
- Nunca ignorar a situação, fazer o problema parecer trivial ou desafiar a pessoa a continuar em frente.
- Remover ou ficar atento aos meios pelos quais a pessoa possa se matar.
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Autoria do texto
Raquel Ferreira Pacheco
Psicóloga (PUC-MG/2014) com experiência em Psicologia Clínica e Psicologia Hospitalar. Pós-graduada em Saúde Mental (IEC PUC-MG/2017). Residência Multiprofissional em Urgência e Emergência no Hospital João XXIII - FHEMIG. (2020). Graduada em Gestão Pública (UEMG/2011).