Apresento o Pai Criativo, personagem fictício que vai encenar essa série de textos sobre dinâmicas familiares. Embora tenha sido inspirado em uma pessoa específica, também tive a satisfação de observá-lo representado em ações de vários outros pais.

O que faz de um pai, um criativo?

O pai criativo está, ao mesmo tempo, além e aquém de expectativas. De fato, independente de sua habilidade, nem sempre atenderá aos desejos de seus filhos. A sua maior virtude é ser capaz de encarar o penoso desafio de educar. Sem dúvida, especialmente quando precisa se impor aos desejos de quem, acima de qualquer coisa, ele quer que o ame.

A figura do Pai Criativo é de uma família de classe média baixa, que sempre falava do seu desejo de poder ter tudo o que acreditava ter uma família “normal”. Suas principais queixas denunciavam uma frustração crônica, de uns para com os outros membros da família. Esse desgosto se instalou gerando um afastamento entre eles. Sempre me inquietou o padrão de normalidade descrito pela família em questão. De alguma maneira, a “família feliz” era entendida como a “família com muitos recursos e privilégios”. Todas as vezes que o pai era questionado para ir mais fundo nessa discussão sobre padrões, esbarrava nos limitados recursos da casa e o padrão de vida desejado.

Isso começou a mudar quando veio à cena o relato de um programa em família.

Pai, mãe e irmãos queriam ir ao cinema. O pai descobriu que havia um horário promocional que estava dentro do que poderia gastar e, assim, combinou com a família de irem no próximo fim de semana. Quando enfim chegou o dia do programa, descobriram que aqueles preços não se aplicavam aos fins de semana, único período em que poderiam ir juntos. Felizmente, o pai se recusou a recuar e tomou um desvio. Foi à loja de conveniência e, junto da esposa e dos filhos, escolheu dois DVDs. Compraram algumas guloseimas e, apesar da tristeza por abortar a ideia do cinema, fizeram um cinema em casa, só deles. Assim, surgiu um novo hábito familiar que lhes permitiu um momento só deles. A partir de então, semanalmente, passaram a se reunir para ver filmes e comer algo diferente.

Leia mais: Consumismo e infância

Os padrões de consumo: felicidade à venda

Os padrões de consumo inspirados pelo american way of life, ditam nossos modos de vida. Embora já seja desafiador resistir a todo poder de sedução desse estilo de vida, há também uma armadilha muito utilizada pelos publicitários e marketeiros; Dirigir os seus produtos às crianças! Sendo elas as mais vulneráveis às mensagens publicitárias. Enquanto os pais, por sua vez, estão mais vulneráveis aos desejos dos filhos, a quem eles almejam proteger das frustrações, tristezas e angústias.

Para se ter ideia do poder de persuasão das crianças, quando o assunto é comprar, um estudo realizado em 2003 pela Inter Sience revelou que 80% das crianças brasileiras influenciam nas compras de produtos. É de se imaginar que após 12 anos esse número provavelmente cresceu ainda mais, com a ampliação dos recursos midiáticos e diversificação das estratégias publicitárias.

Se o marketing seduz, o pai criativo, educa

Pensando nesses dados e nas queixas entre eles, encontramos um problema central. Aquele pai não podia atender plenamente aos desejos impostos por um padrão de vida que, apesar de almejado, não era o deles. Assim, a menos que tivesse uma rápida e significativa ascensão social – aliás, muito provavelmente, nem assim – ele jamais atenderia às expectativas. O que, embora não signifique haver uma conformação com o status quo, a partir de uma alternativa que deu certo, já que permitiu à família estabelecer um ponto de aproximação entre eles.

Claro que isso não significou uma mudança imediata naquela família, e nem tampouco solucionou todos os seus problemas. Mas é fato que, desse momento em diante, as relações entre eles ganharam novos contornos e novas cores. E se, por um lado, as ações de marketing e publicidade, sofisticadamente, os seduzem, o pai, criativamente, educa.

Curtiu? Aproveita e lê o próximo texto dessa coluna: O Pai Criativo é um pai presente

Créditos e referências bibliográficas:

Autor: Pablo Ferreira Bastos Ribeiro – Psicólogo
Imagem capa: rawpixel.com

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Artista: Morysetta
Site: morysetta.com
Modificação: Equipe Diálogo Psi

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  1. […] fazer para qualificar a relação com os filhos, por que não? Foi exatamente o que se perguntou o Pai Criativo, nosso personagem […]

  2. Karina Friaça 19 de março de 2015 at 21:36 - Reply

    Gostei muito da forma como abordou a situação, Pablo. Concordo que há várias maneiras de aproximação e não necessariamente está vinculada à praça de alimentação de um shopping. Não tenho filhos mas já trabalhei muito com monitoria em festa infantil e via crianças inteligentes e bem cuidadas mas longe afetivamente dos pais. A aparências eram intactas com as roupas e sapatos da moda e muitas vezes celulares mais modernos que o meu que sou adulta, mas o único contato próximo eram quando deixavam as crianças nos brinquedos e na hora de buscá-los deixando claro que esses pais estavam na mesma festa. Essa ideia de consumismo desenfreado é comum também dentro de casa onde podem estar todos reunidos no mesmo cômodo mas cada um entretido com suas ferramentas tecnológicas preferidas.
    Parabéns pela abordagem e a forma como a fez.

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 20 de março de 2015 at 10:31

      Prezada Karina,

      Muito obrigado por participar! Essa discussão acerca da tecnologia é, de fato, muito interessante e importante que se discuta. Creio que, em breve, traremos essa discussão com um foco maior sobre ela.

      Mais uma vez, obrigado por dialogar conosco! Seja sempre bem vinda. :)

      Abraços

  3. raildes 19 de março de 2015 at 13:12 - Reply

    Ola eu estou querendo desabafar sou casada 13descobri q meu marido me trai e a nossa era uma mentira mas eu amo muito ele,nao sei o q fazer.

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 19 de março de 2015 at 16:27

      Olá Raildes,

      Com o intuito de garantir a sua privacidade, respondi seu comentário por e-mail.

      Bem vinda à Diálogo e obrigado por participar.

      Abraços,

      Pablo

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 19 de março de 2015 at 17:03

      Olá Raildes,

      O e-mail para o qual enviei a minha resposta está voltando. Sugiro que me envie um e-mail para o endereço pablo@dialogopsi.com.br e então lhe responderei diretamente por lá.

      Abraços

  4. marina 17 de março de 2015 at 22:18 - Reply

    excelente abordagem do tema em questão. porque realmente educar nos dias de hoje – controlado pelo consumismo desenfreado- tem que ser muito criativo. Adorei o texto. parabéns pelo profissional de visão educativa e social que você é. Deus continue te dando o dom da palavra. Porque esse é um dom que realmente muito poucos dominam com tanta propriedade.

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 17 de março de 2015 at 23:19

      Olá Marina, obrigado por partilhar sua impressão e por suas palavras tão gentis! Um grande abraço!

  5. Thiago Guedes 17 de março de 2015 at 19:26 - Reply

    Excelente texto Pablo! Soma-se a tudo que você falou, o excesso de tempo despendido pelos pais modernos ao trabalho e a redução da interação social dos filhos, que preferem ficar presos ao mundo virtual em detrimento da convivência social. Parabéns e abraços meu amigo!

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 17 de março de 2015 at 23:15

      Caro Thiago, obrigado pela avaliação generosa e obrigado pela complementação! A presença e dedicação dos pais é, de fato, um assunto muito relevante, na próxima semana publicaremos um texto que falará sobre isso! Espero que possa contribuir novamente para qualificar o diálogo! Quanto à questão da interação social e o mundo virtual é terreno fértil, também, para discussões futuras, muito bem lembrado! Grande abraço!

  6. Raquel 16 de março de 2015 at 16:06 - Reply

    Oi Pablo, muito bom seu texto! Tema importante! Abraços!

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 17 de março de 2015 at 11:16

      Olá Raquel! Fico feliz que tenha gostado! Sinta-se à vontade para sugerir novos temas, sempre que desejar.

      Abraços

  7. Gustavo Filardi 13 de março de 2015 at 17:34 - Reply

    Muito bom

  8. PATRICIA GARCEZ 12 de março de 2015 at 09:04 - Reply

    Olá Pablo,
    Muito interessante seu texto!
    Parabéns!
    Abçs

    Patrícia

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 12 de março de 2015 at 10:49

      Olá Patrícia,

      Muito obrigado pelas palavras gentis! Espero que volte outras vezes!!

      Abraços

  9. Nad San 11 de março de 2015 at 18:27 - Reply

    Muito bem elaborado e completo! Amei o texto!

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 12 de março de 2015 at 00:24

      Que bom que gostou, Nad! Outros mais virão! Caso queira sugerir outros temas, sinta-se à vontade!!

  10. Virginia 3 de março de 2015 at 23:43 - Reply

    Vivi na pele uma experiência muito semelhante. Restava-me de lazer os DVDs da banca de promoção do Wal Mart. Então por um período os sábados da minha família eram assim como o do texto. Tenho saudade dessa fase onde ausentava dinheiro e sobrava a certeza de pertença e união…

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 12 de março de 2015 at 00:27

      Olá Virgínia! Muito obrigado por partilhar a sua experiência! É sempre confortante saber que momentos de adversidade podem se transformar em boas lembranças, não é mesmo? Caso queira enviar sugestões, sinta-se sempre à vontade! Grande abraço!

  11. Kalyne 2 de março de 2015 at 14:42 - Reply

    Muito pertinente o tema, a sociedade de consumo está gritando tão alto quanto nossas crianças sem limites gritam! E gritam pra elas, compre, compre, isso é legal, você precisa ter pra ser igual a todos na escola! Precisamos mesmo de pais criativos que busquem trazer seus valores pros filhos refletirem, se flexibilizarem e conseguirem se adaptar a realidade social dos pais, sendo felizes com eles!!!!!! Adoro conversar com você, grande colega de profissão e amigo pra todo sempre!!!! Estarei acompanhando seus passos!!!!!!! Bjs, kalyne

    • Pablo Ferreira Bastos Ribeiro 12 de março de 2015 at 00:31

      Oi Kalyne!! Muito obrigado por seu carinho e proximidade! Me alegra muito saber que posso sempre contar com suas contribuições, sempre tão sensíveis e relevantes! :)

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Autoria do texto
Pablo Ferreira Bastos Ribeiro

Graduado em Psicologia pela PUC Minas. Mestre e doutorando em Psicologia pela UFMG. Experiência nas áreas de Psicologia Social e Psicologia Clínica. (31)98738-0377/pablo@dialogopsi.com.br

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