O que é um casal? Metades ou unidades?
Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: “Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?”, pois tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar
Nietzsche
O que é um casal? Metades ou unidades? As relações amorosas acabam sendo sempre temas centrais de intermináveis discussões. Sejam nos livros, filmes, novelas, nas mesas de bar, ela tem espaço. Enfim e por conta disso, é propício colocarmos o assunto em discussão e passear pelo imaginário das pessoas. É interessante suscitar questões sobre a possibilidade de descobrir se existe mesmo o amor ideal, a alma gêmea, a “cara metade”.
Penso que seja impossível chegar a um consenso e resposta definitiva para tantos questionamentos e anseios particulares. Podemos, então, fazer uma reflexão sobre o que nos move nessa procura de amor perfeito!
SEJA UM NUMA RELAÇÃO DE DOIS
Perfeito mesmo seria podermos amadurecer a ideia de que é mais fácil o convívio entre duas unidades do que duas metades. Quando procuramos amor e pensamos em uma “cara metade”, logo imaginamos que encontraremos no outro o que nos falta, o que não dispomos. Por outro lado, se pensarmos em alguém como sendo um indivíduo inteiro, uma unidade, respeitaremos sua individualidade e deixaremos de procurar alguém tão idealizado e sim, mais humanizado.
Creio que não é possível encontrar alguém que esteja no mundo apenas esperando para atender nossas expectativas! Viveremos melhor se dermos conta de que as pessoas não irão satisfazer nossas vontades plenamente, cada um dá o que tem.
Compartilhar bons momentos e procurar encontrar o que seja capaz de criar bem-estar mútuo, esse seria um bom objetivo no caminho de uma relação saudável.
Leia mais: E quando o amor nos adoece
NINGUÉM É RESPONSÁVEL POR SUA FELICIDADE
Responsabilizar o outro pela sua felicidade, por suas escolhas e derrotas, enfim, não isenta e ainda te limita. Favorece a ideia de que não nos compete escrever nossa própria história, pois o outro se encarregará disso. Como num movimento de “deixa a vida nos levar”… Pelo contrário, partir do ponto de que somos responsáveis por nós mesmos, de que o outro faz somente o que deixamos que ele faça, nos coloca em uma posição de mais autonomia.
A integração dos sistemas afetivos como apego, cuidado, romantismo, sexualidade e amizade, podem favorecer ao casal a falsa ideia de completude. Em outras palavras, essa suposta complementaridade que criaria de um vínculo mais duradouro.
Para moldar um mundo em comum, o casal precisará fazer contínuas negociações. Levando em conta os interesses comuns acima dos individuais na maior parte das vezes. Para isso, os parceiros precisarão se modificar e reorganizar internamente, criando uma identidade de casal, onde possam se estabilizar emocionalmente e readaptar as regras anteriormente estabelecidas sobre sexo, dinheiro, segredos, etc.
Dois parceiros jamais corresponderão ou irão satisfazer inteiramente um ao outro, é um desafio permanente dos parceiros a construção de uma harmonia suficiente para a sobrevivência, mesmo que de forma diferente, mas que seja compatível.
Considerando o amor como um verbo, uma ação amorosa e não apenas como um sentimento. Percebemos que ele passa a ser passível de construção, de um fazer. E não um simples ser, é preciso construir o amor. Ou seja, torna-se necessária a manutenção diária para que sobreviva.
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Autoria do texto
Andreia Rodrigues Leite
Psicóloga Clínica. Pesquisadora USP, formanda em Tanatologia (lutos e perdas). Coautora do livro "Tanatologia - Temas Impertinentes, Org. Aroldo Escudeiro, LG Edit. e Gráfica - 2011 ", com o tema "Quando o amor adoece". (Fornecido pelo autor)