“Empatia é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso
mundo refletido nos olhos dele” – Carl Rogers
Você já se colocou no lugar do outro? Compreendeu como determinada situação afetaria este alguém? Como bem disse Carl Rogers, já olhou o mundo usando as lentes de outra pessoa?
A perspectiva com que observamos os problemas e as situações varia para cada pessoa e varia com o posicionamento que tomamos na vida. Conseguir perceber o mundo pelos olhos do outro é poder enxergar o que ele enxerga em seu posicionamento, que é diferente do meu.
Tome como exemplo esta fotografia. Para quem olha a estátua deste ângulo, a moça que está de pé toca os seios da outra. Mas, para quem observa a escultura de frente, perceberá que, na realidade, a moça toca o ombro da segunda mulher. As reações para cada ponto de vista serão, certamente, bem diferentes, concorda?
A empatia diz respeito à capacidade de compreender o
outro através do seu ponto de referência.
Cormier, Nurius e Osborn (2009)
O que é empatia?
Logo, chamamos de ‘Empatia’ a capacidade de se distanciar de seus próprios interesses, ponto de vista e necessidades, para entender, aceitar e promover os interesses, ponto de vista e necessidades dos outros.
A empatia também pode ser definida tanto por uma perspectiva emocional quanto cognitiva. Empatia cognitiva consiste numa percepção da realidade do outro a partir do seu ponto de vista, é a compreensão intelectual e racional do outro. Enquanto a Empatia emocional consiste na capacidade de sentir com ele e de identificar seus sentimentos, emoções e experiências afetivas.
Empatia também costuma ser confundida com os conceitos que fazemos de ‘simpatia’ e ‘identificação’. A simpatia “envolve a atenção aos próprios sentimentos e à semelhança existente entre eles e os da outra pessoa” e, por sua vez, a identificação implica em “atribuir os próprios desejos e atitudes ao outro, pelo desejo de ser como ele” (Palhoco, 2011). O que se distingue aqui, principalmente, é o foco da atenção:
- Empatia –> Foco no outro, compreendo e sinto o que ele pensa e sente.
- Simpatia –> Foco nos meus sentimentos e no que há de comum com os sentimentos do outro.
- Identificação –> Foco em mim e atribuição dos meus desejos e sentimentos ao outro.
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Por que ser empático é importante?
A capacidade de ser empático é fundamental no estabelecimento de relações interpessoais, pois constitui fundamento essencial à regulação das necessidades dos outros, tal como acontece, por exemplo, entre as mães e seus bebês recém-nascidos, ou entre os terapeutas e seus clientes em psicoterapia (Palhoco, 2011).
Quando a mãe vê seu bebê chorando, é empática ao reconhecer seu estado interior e busca dar-lhe o que necessita. Assim, esse reconhecimento permite abrandar os medos e agressões do outro. Cria-se um clima de acolhimento entre os envolvidos, permitindo que os efeitos positivos se perpetuem. No outro exemplo, o terapeuta ao reconhecer os sentimentos do paciente, possibilita que ele desenvolva um sentimento de aceitação pessoal e compreenda que as suas emoções são válidas e fazem sentido.
Além disso, A EMPATIA NOS PERMITE: uma compreensão melhor do outro com o qual nos relacionamos; podemos adotar intuitivamente as experiências dos outros como se fossem nossas (aprendizagem); permite um intercâmbio de experiências; e também podemos conhecer a nós mesmos através do espelho da outra pessoa.
“A força da união entre os seres humanos, a identificação com o outro como ‘carne da minha carne’, simplesmente em razão de sua existência humana, provoca em nós o desejo de salvar outros de seu sofrimento, como se isso fosse uma reação reflexa profundamente ancorada no passado de nossa evolução genética. Nada podemos fazer contra isso. Sentimo-nos atraídos para a empatia, porque existe no outro algo que sentimos como uma parte de nós mesmos, e existe algo em nós que sentimos como parte do outro“. Gobodo-Madikizela (2003)
Existe algo de biológico na característica da empatia?
Contudo, a empatia não é um sentimento puramente humano. Ficamos encantados quando observamos animais demonstrarem comportamentos de empatia para com outros seres vivos. Por exemplo, um cão que salva um bebê abandonado por sua mãe em uma lata de lixo ou o leopardo que matou um macaco adulto e passou a cuidar de seu filhote órfão.
Os seres vivos que convivem em sociedade ou próximos de outras espécies, precisam ter uma boa capacidade de percepção mútua. Para sua segurança e sobrevivência é importante que possam reconhecer facilmente o amigo e o inimigo, os estados de amizade e hostilidade.
O que nos leva a questionar: Existe algo de biológico na característica da empatia?
Conhecemos ao menos uma base neurobiológica essencial para essa capacidade de participar emocionalmente da vibração de outros e adentrar intuitivamente em seu íntimo: Os neurônios-espelho!
“Sentimos os outros: sentindo seus sentimentos, seus movimentos, suas sensações e emoções, enquanto eles atuam dentro de nós”. Ana Rita Palhoco (2011)
O riso contagia
Tanto nós humanos, quanto outros seres vivos, somos facilmente contagiados pelas emoções dos que nos cercam. Em um jogo de futebol, por exemplo, milhares de pessoas gritam juntas ou sofrem juntas. Estão compartilhando suas emoções. Veja um exemplo nesse vídeo delicioso, onde uma pessoa começa a rir e contagia todos a sua volta.
Neurônios espelho
Os neurônios-espelho foram descobertos, tanto nos cérebros de humanos quanto de outros animais. Eles “tornam as emoções contagiosas, fazendo com que os sentimentos que observamos fluam através de nós, ajudando-nos a entrar em sincronia e acompanhar o que está a acontecer” (Palhoco, 2011).
A relação entre os neurónios espelho e a empatia foi encontrada numa investigação realizada por Hutchinson e outros pesquisadores, onde foi possível verificar que existe ativação neuronal quando o sujeito antecipa a dor, mas também quando vê outra pessoa recebê-la, o que demonstra um sinal neural de empatia.
Estes neurônios têm por função refletir as expressões corporais e emocionais dos outros e proporcionar um funcionamento paralelo entre dois cérebros, permitindo assim que haja ressonância empática, pelo que parecem deter um papel relevante na capacidade de gerar empatia pelas experiências e pelas emoções dos outros.
O que nos torna capazes de compreender o que se passa com aquele com quem interagimos não é de início a troca de ideias, a comunicação verbal. Percebemos o estado do outro através dos nossos sentidos de um modo natural e inconsciente. Nossas emoções são expressas, primeiramente, pelos circuitos dos músculos faciais, permitindo que os outros as leiam e por sua vez, os neurônios-espelho asseguram a experimentação instantânea do mesmo sentimento. Ou seja, as emoções expressas tenderão a ser percebidas e experimentadas pelo outro, que poderá compreendê-las. O contágio emocional pode então ser entendido como uma forma primitiva de empatia.
Com tudo isso percebemos a importância da empatia. Se não é possível viver em ambiente social sem interagir com os que nos cercam, tão difícil quanto é interagir sem compreender o que o outro sente ou como percebe nossas ações.
Referências Bibliográficas
- MIGUEL, F.K., e NORONHA, A.P.P. (2006). Estudo da Inteligência Emocional em Cursos Universitários.
- PALHOÇO A.R.M.S. (2011). Estudo da empatia e da percepção de emoções em psicoterapeutas e estudantes de psicologia. (Dissertação de mestrado) Universidade de Lisboa, Portugal.
- Rogers, C. R. (1974). A Terapia Centrada no Paciente
- Vasco, A. B. (2007). Quando Menos é melhor: A Arte de Comunicar em Psicoterapia.
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Autoria do texto
Pablo Ferreira Bastos Ribeiro
Graduado em Psicologia pela PUC Minas. Mestre e doutorando em Psicologia pela UFMG. Experiência nas áreas de Psicologia Social e Psicologia Clínica. (31)98738-0377/pablo@dialogopsi.com.br