Saúde Mental e Qualidade de vida
A Epidemia Silenciosa do Burnout: Um Desafio da Modernidade
O burnout, conhecido como a síndrome do esgotamento profissional, é cada vez mais comum em um mundo onde as demandas por produtividade e eficiência são constantes. Recentemente, especialistas têm chamado atenção para o risco de uma verdadeira epidemia de burnout, impactando trabalhadores de diversas áreas e faixas etárias.
A pressão por resultados, aliada à dificuldade de desconectar-se do trabalho, especialmente em um contexto de hiperconectividade, tem levado muitas pessoas a vivenciarem níveis extremos de exaustão, distanciamento emocional e até mesmo uma queda na capacidade de realização. Esse ciclo, se mantido, pode resultar em impactos significativos para a saúde mental, como a depressão e a ansiedade, além de afetar diretamente a produtividade e a qualidade de vida.
O termo “Burnout” vem do inglês e pode ser traduzido literalmente como “queima completa” ou algo que “se esgotou completamente“. No sentido que nos interessa, refere-se ao esgotamento, à incapacidade de continuar cumprindo as funções determinadas, pois o indivíduo já deu tudo de si, chegando ao limite. A Síndrome de Burnout não é necessariamente uma doença, mas uma alteração de cunho psicológico relacionada à exaustão física e mental. Por isso, também é conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional.
Estamos vivenciando uma epidemia de Burnout?
As pressões do dia a dia, as metas a cumprir, os prazos curtos e as expectativas de desempenho podem facilmente transformar a rotina em algo desgastante. E, os dados recentes são preocupantes: “De 178 afastamentos por burnout em 2019, o Brasil passou para 421 em 2023, um aumento de 136%. Em uma década, o número de afastamentos por esse motivo cresceu quase 1.000%” [1].
Entretanto, o número acima não reflete completamente a realidade, pois muitos casos não são devidamente diagnosticados. Além disso, alguns são diagnosticados com base em quadros clínicos não diretamente relacionados ao trabalho, como ansiedade ou depressão. “Hoje, estima-se que 40% das pessoas economicamente ativas sofram de burnout”, aponta Alexandrina Meleiro, médica psiquiatra e porta-voz da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) [1].
Reconhecer os sinais do burnout e buscar apoio são passos essenciais para quebrar esse ciclo e proteger a saúde mental. Para empresas e indivíduos, é fundamental rever práticas de trabalho e priorizar o bem-estar como uma questão de saúde pública. Afinal, lidar com o burnout não é apenas uma responsabilidade individual; é uma necessidade coletiva para construir ambientes mais saudáveis e sustentáveis para todos.
Estresse no Trabalho: Um outro Olhar
Percebemos que é inegável o excesso de demandas dos empregadores e há, de fato, uma consequente sobrecarga das pessoas. Para além de pensar as condições do ambiente do trabalho (externo à nós), é importante pensar, também, se há algo mais profundo acontecendo dentro de cada um de nós diante dessa sobrecarga. Aqui levantamos as seguintes perguntas:
- Qual a minha maneira de me relacionar com o trabalho?
- O que o trabalho significa para mim?
- Quais as minhas expectativas para meu futuro profissional?
- Como lido com as expectativas que vêm dos outros?
Por exemplo, sobre as “expectativas“, elas dizem de um desejo ou ânsia, que trazem embutido em si o que devemos ser, o que devemos fazer e como devemos nos comportar. Sem contar que, muitas vezes, somos nós mesmos que supomos as expectativas nos outros.
De maneira geral, lidamos com expectativas dos outros sobre nós cotidianamente; dos nossos chefes, colegas, da própria cultura da empresa ou até das normas da sociedade. A questão aqui é entender como lidamos com elas! E o principal problema ainda é tentar atender a todas essas demandas sem discriminação. Embora nunca o consigamos, permanecer sustentando essa posição infalível e tentar dar conta de tudo pode gerar cada vez mais uma sensação de frustração e cansaço. Ai está uma receita para o adoecimento: Tentar ser o profissional perfeito, atender a todas as expectativas e dar conta de tudo.
Além disso, muitas vezes o estresse no trabalho ocorre porque nos distanciamos do que realmente queremos, do nosso desejo. Quando trabalhamos apenas para atender às demandas externas, como metas e prazos, sem nos perguntarmos o que realmente nos move, acabamos nos desconectando de nós mesmos. Essa desconexão é um dos fatores que aumentam o estresse, pois trabalhamos cada vez mais para cumprir algo que parece distante ou vazio.
Resumo
Em resumo, o estresse no trabalho tem como contexto o ambiente e as relações de trabalho. É inegável que, enquanto você estiver disposto a se doar sem condicionantes, o seu empregador vai exigir mais. É a lógica básica da exploração capitalista do trabalho.
Entretanto, outro fator facilitador do estresse está ligado à maneira como lidamos com as exigências, com o nosso desejo e com a sensação de nunca sermos “suficientes”. O verdadeiro caminho para lidar com o estresse é, antes de tudo, entender a relação que temos com nosso próprio desejo e como podemos nos reposicionar em relação a ele. Assim, não se trata apenas de reduzir o estresse, mas de descobrir formas mais saudáveis de viver e trabalhar.
Referências teóricas
- [1] Fonte: BBC <>
- Freud, S. O mal-estar na civilização (1930).
- Lacan, J. O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise (1964).
- Lacan, J. O Seminário, Livro 20: Mais, Ainda (1972-1973).
- Dunker, C. I. L. Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica (2011).
- Kehl, M. R. O Tempo e o Cão: A Atualidade das Depressões (2009).
Clínica de Psicologia e Psicanálise