Nem toda perda de memória é culpa do Alzheimer!
A maioria das pessoas conhece ou já ouviu falar sobre o mal de Alzheimer, mas nem toda perda de memória é culpa dele. O aumento da longevidade (duração de vida de um indivíduo) é uma conquista que indica avanços socioeconômicos, científicos e na qualidade de vida. Embora o último estágio da vida o indivíduo possa viver com mais qualidade e expandir sua duração, a sociedade acaba por se deparar com o ponto negativo do envelhecimento, que é a deterioração do nosso Sistema Nervoso Central.
No entanto, nem toda deterioração, por exemplo, a perda da memória, é referente ao Alzheimer. Apesar de que, sim, de fato a incidência da doença aumenta proporcionalmente ao aumento da quantidade de indivíduos acima de 70 anos. Bem como é comum conviver ou conhecer alguém que tenha algum familiar com o quadro. No entanto, para além do Alzheimer, existem duas informações importantes:
1ª: Alzheimer não é sinônimo de demência
Demência consiste na presença de déficits cognitivos múltiplos adquiridos e persistentes que incluam o déficit de memória e o comprometimento de pelo menos outro domínio cognitivo (linguagem, praxia, gnosia, ou função executiva). Essas alterações devem ser suficientes para causar comprometimento no funcionamento social ou ocupacional do indivíduo e, representar um declínio significativo em relação ao estágio prévio (CARVALHO, 2007; KNOPMAN et al., 2001 citado por TEIXEIRA e CARAMELLI, 2008).
O Alzheimer é o tipo de demência mais conhecido porque é também o mais comum, representando de 50 a 70% dos casos. No entanto, existem outros tipos de demência (falaremos delas adiante). Por exemplo, a demência vascular que corresponde a 20% dos casos; a demência com corpos de Lewy (ou Parkinsonianas) e demência frontotemporal que juntas correspondem a 5% dos quadros. Bem como, podemos citar aquelas menos comuns, ou secundárias a algum processo infeccioso (neurosífilis, HIV, etc.) ou metabólicos (deficiência de vitamina B12, hipotiroidismo, etc.) (TEIXEIRA e CARAMELLI, 2008).
2º Nem todo declínio cognitivo é demência
O ponto essencial é que o envelhecimento é global e obviamente atinge também o sistema nervoso, manifestando-se através da redução do potencial mental. Então existe uma série de declínios que são considerados normais de acontecerem próximo aos 65 anos. Exemplos:
- Um idoso com envelhecimento normal terá preservado os conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Porém vai apresentar dificuldade em resolver problemas que são novos ou pode vir a demorar um pouco mais. Isso devido à redução da sua velocidade de processamento das informações.
- Um idoso com envelhecimento normal costuma parecer mais desatento. Isso ocorre por efeito das alterações sensórias (acuidade visual e auditiva), da lentificação dos processos e, também, porque dividir a atenção em duas tarefas é uma atividade que se torna mais difícil de ser executada com o passar dos anos.
- Um idoso com envelhecimento normal tende a reduzir sua habilidade de memorizar uma informação nova que demanda a reorganização mental e o uso de estratégias. A memória antiga e autobiográfica tende a ser menos afetada, mas pode acontecer quando uma informação precisa ser resgatada, o que é já não é tão comum quando se exige que o idoso reconheça um fato, uma pessoa ou um objeto.
- Um idoso com envelhecimento normal vai ter uma queda na velocidade de acessar as palavras certas e de organizar a linguagem.
Todos os exemplos citados acima são comuns de acontecerem com pessoas idosas. E ainda, anterior ao quadro demencial, existe a situação da pessoa que apresenta declínios cognitivos leves, porém anormais para a idade. Mas, que não são capazes de gerar repercussões significativas para o dia a dia. Eles são denominados de Transtorno Cognitivo Leve.
Diagnóstico diferencial: Avaliação Neuropsicológica
Agora, para diagnosticar se o déficit apresentado pelo sujeito caracteriza um quadro de demência, o médico responsável, normalmente um neurologista ou geriatra, avalia: A história clínica do paciente e dos familiares; O início e a progressão dos sintomas; O grau de incapacidade gerado; A repercussão dos sintomas na atividade diária do paciente e; Os sintomas neuropsiquiátricos.
É comum que além das consultas, o paciente seja submetido a uma série de exames complementares, até mesmo para o diagnóstico diferencial. Costuma-se avaliar o funcionamento geral dos sistemas para verificar se uma disfunção orgânica pode estar afetando as funções cognitivas. Realizar o exame neurológico para avaliar funções sensórias e motoras. Além de exames de imagem (tomografia computadorizada, ressonância magnética) e exames funcionais (SPECT, Ressonância Magnética Funcional ou PET) para observar as condições do sistema nervoso.
A avaliação neuropsicológica pode ser útil para o diagnóstico e para acompanhar evolução e eficácia do tratamento adotado, avaliando de forma sistemática as funções cognitivas do paciente.
Por fim, existem algumas distinções nos vários tipos de demência, resumidamente:
- Doença de Alzheimer: caracteriza por déficit progressivo na memória associado à comprometimentos na linguagem e habilidades visuoespaciais, além de sintomas comportamentais como: apatia, depressão, agitação e agressividade. Ela evolui em três estágios relativamente previsíveis.
- Demência Frontotemporal: tem uma alteração mais significativa nos campos do comportamento e personalidade. A linguagem tende a ser progressivamente afetada, ocorrendo uma queda na fluência e na compreensão da expressão oral. Já as funções cognitivas tendem a ser pouco afetadas. A manifestação pode ser distinta dependendo da área afetada: quando na área orbital o indivíduo tende a impulsividade, comportamentos sociais e estereotipados; na região medial leva ao isolamento social e a apatia; na região dorsolateral surgem problemas de planejamento e adequação do comportamento.
- Demência com corpos de Lewy: apresenta parkinsonismo que são sintomas motores, podendo acontecer ou tremores ou rigidez muscular acompanhada de instabilidade postural. A memória de avocação, atenção e habilidades viuoespaciais também são afetadas.
- Demência Vascular: tende a ser mais heterogenia já que estabelece-se uma relação com uma doença cerebovascular que pode vaiar bastante e o tipo, local e abrangência da lesão que vão definir o tipo de sintomas. A mesma heterogeneidade ocorre nas demais demências secundárias.
Referências:
CARVALHO, R.C. Classificação das demências. In: MIOTTO, E.C., DE LUCIA, M.C.S, SCAFF, M. Neuropsicologia e as interfaces com as neurociências. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007, p.39-44.
TEIXEIRA, A.L., CARAMELLI, P. Neuropsicologia das demências. In: FUENTES, D., MALLOY-DINIZ, L.F., CAMARGO, C.H.P., COSENZA, R.M. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008, p357-363.
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Autor(a):
Nathalia Santos da Costa – Psicóloga e mestre em Neurociências (UFMG), pós graduada em Neuropsicologia (FUMEC). Experiência clínica em psicoterapia, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.
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Autoria do texto
Nathalia Santos da Costa
Psicóloga e mestre em Neurociências pela UFMG, pós graduada em Neuropsicologia pela FUMEC. Experiência clínica em atendimento psicoterapêutico, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.