Aprender, uma tarefa para o cérebro – Parte II
No último texto dessa coluna (Aprender, tarefa para o cérebro – Parte I) tratamos de algumas questões que a neurociência, com o seu saber sobre o Sistema Nervoso, pode esclarecer a respeito de como aprender melhor. Num primeiro momento, tratamos das questões basais que – justamente por serem básicas e essenciais – influem no nível do funcionamento do sistema nervoso. Podendo inclusive interferir no desempenho do estudo.
Agora vamos adentrar um pouco mais na dinâmica da aprendizagem. Se eu preciso aprender algo e estou com minhas necessidades básicas supridas e em homeostase, o ponto inicial para o êxito é a atenção. A atenção seleciona dados importantes para o indivíduo. E é através dessa função que a informação do meio vai começar a ser assimilada. Podemos classificar alguns tipos de atenção.
Sobre a Atenção
A atenção seletiva é a mais requisitada na hora de estudar. Isso por que além de focar em um tipo de informação, ela também inibe o acesso de outros estímulos. Aqueles que não nos interessam naquele ponto.
Também temos a Atenção Reflexa que direciona atenção para estímulos inesperados ou de muita importância. E, por fim, a Atenção Flutuante, que é a que colhe uma série de informações ao mesmo tempo. Ela é muito famosa como o aspecto essencial para ser um bom motorista, principalmente nas cidades grandes.
Se o cérebro não reconhece o conteúdo do seu estudo como muito importante, você pode ter a sua atenção colocada em modo flutuante. Ou seja, o que faz você pensar até na “morte da bezerra”; essa é a razão para se diminuir os estímulos no ambiente de estudo. Essa “distração” é comum nas crianças que ainda não tem seu sistema nervoso todo desenvolvido. Porém, no caso dos adultos um primeiro aspecto é que para sustentar a atenção o cérebro precisa reconhecer a importância (motivação) para aquele conhecimento.
Outra questão é que a área frontal do cérebro que é responsável pelo controle executivo da atenção tem um limite, embora existam as diferenças individuais, algumas pesquisas sugerem que o período de concentração dure entre 30 a 40 minutos. Baseado nesse limite é que existem muitos alertas para que o estudante faça pequenas pausas ao longo do estudo. O importante é dar um descanso! E ele tende a ser mais potente se você aproveitar o tempo com atividades bem diferentes da que estava fazendo. Por exemplo, mexer o corpo, fazer alongamento, escutar uma música, etc.. No entanto, não se indica atividades envolvendo telas, como o computador e a TV.
Dicas para estudar melhor!
A atenção reflexa ou difusa tende a ser atraída pelo que é novo, pouco usual ou intenso e isso pode ser estratégias para trazer a atenção do estudante de volta. Por exemplo, se você está estudando para vestibular pode ser interessante fazer pequenos turnos de estudo de matérias bem diferentes como trocar de história para matemática, ou se você estiver muito difuso estudar aquela matéria que você gosta mais.
Agora se não tiver como trocar o assunto você ainda pode intercalar: 30 minutos de leitura grifando as informações importantes, 10 minutos de pausa, elaborar um esquema ou resumo sobre o tema e depois do segundo intervalo fazer exercícios para testar o conhecimento.
Essa última dica é muito válida. Pois, além de facilitar a atenção, ela já está estimulando a memória que é o segundo aspecto de suma importância nos estudos. É comum que se tenha tido atenção a uma informação, mas que mesmo assim, ela não fique gravada para resgate posterior. Isso acontece porque temos alguns sistemas de memória: uma memória operacional ou de trabalho, uma de longa duração e uma de procedimento.
Sobre a Memória
Há no sistema nervoso uma área central que se chama hipocampo. É nele que se trabalha as informações que estão sendo úteis para algo, como por exemplo, quando você está seguindo uma receita no preparo de um prato. Se a informação cumpriu sua função, mas não é mais requisitada ela é descartada, pois o hipocampo também não tem capacidade de manter muitas informações. Mas se a informação é repetida, é muito utilizada ou se associa a algo que é muito importante para o indivíduo, ela é registrada em alguma área cortical que depende do tipo de informação e poderá ser acessada posteriormente.
Então muitos esperam que pelo fato de ter assimilado um conhecimento ele necessariamente vai ser registrado, porém é necessária a prática até se conseguir fazer uma receita de memória. A memória tende a ser mais forte quanto mais frequente é a utilização do conteúdo (como alguém que está fazendo a mesma receita há anos); quando foi acessado por vias sensoriais diferentes, por exemplo: a pessoa escuta alguém ensinando a receita, depois vê no YouTube e depois ela mesma faz, colocando aquele conhecimento em prática e quando tem uma valor emocional para a pessoa, por exemplo, quando o prato é receita da avó e remete aquela lembrança da infância.
Então se o que você precisa aprender não é necessariamente uma paixão para você, não vai ser com um estudo na véspera da prova (que você até se saiu bem) que vai garantir o uso posterior da informação. É sempre necessário revisitar esse conhecimento, colocar em prática, exercitar, fazer sínteses e resumos para recorrer posteriormente, associá-lo a outros conhecimentos que você já tenha. Por isso o estudar tem que ser uma prática constante, não necessariamente excessiva, mas bem planejada.
Créditos e referências bibliográficas:
CompARTilhe arte
Imagem: “The bold and beautiful“
Artista: SHIRA BARZILAY – K O K E T I T
Site: @koketit
Adaptação: Equipe Diálogo Psi
CompARTilhe arte
Imagem: “We rise“
Artista: SHIRA BARZILAY – K O K E T I T
Site: @koketit
Adaptação: Equipe Diálogo Psi
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Autor(a):
Nathalia Santos da Costa – Psicóloga e mestre em Neurociências (UFMG), pós graduada em Neuropsicologia (FUMEC). Experiência clínica em psicoterapia, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.
Outros textos dessa autora:
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Nathalia Santos da Costa
Psicóloga e mestre em Neurociências pela UFMG, pós graduada em Neuropsicologia pela FUMEC. Experiência clínica em atendimento psicoterapêutico, avaliação neuropsicológica e orientação profissional e de carreira. Experiência em docência em cursos de graduação, pós- graduação de psicologia e psicopedagogia e capacitações em instituições de ensino.