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Ausência Paterna – Cadê o Papai?
Vamos falar sobre a ausência paterna. É comum ouvirmos histórias de pais que desaparecem do convívio familiar. As razões são diversas: desde a falta de desejo de se envolver com a criança até a recusa em oferecer suporte financeiro e afetivo. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no Censo Escolar de 2011, mostram que 5,5 milhões de crianças brasileiras não possuem o nome do pai na certidão de nascimento.
Apesar das mudanças significativas no papel da paternidade ao longo dos anos, ainda há muito a ser transformado. Surge, então, a pergunta: esses pais têm consciência dos impactos desse abandono na vida de suas crianças?
A transformação no papel do pai
Historicamente, a figura paterna estava associada à disciplina e à educação dos filhos segundo códigos rígidos e repressivos. O contato direto com as crianças, especialmente nos primeiros anos de vida, era limitado, assim como sua participação nos cuidados diários.
Nas últimas décadas, o papel do pai evoluiu devido a mudanças culturais, sociais e familiares. Em um passado não tão distante, os filhos eram vistos como propriedades do pai, enquanto as mães tinham direitos limitados. Depois, o pai foi reduzido ao papel de provedor financeiro.
Como relata Marques, após a Segunda Guerra Mundial, mudanças profundas na sociedade ocidental estimularam uma maior participação dos pais no convívio familiar. A entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho também impulsionou essa transformação, promovendo novos arranjos familiares e a separação dos papéis conjugais e parentais.
Atualmente, é comum vermos pais dividindo tarefas domésticas, participando de reuniões escolares, levando os filhos ao médico e estando presentes em momentos de lazer. Essa presença ativa demonstra que o papel paterno é tão essencial quanto o materno no desenvolvimento da criança.
O que significa a ausência paterna?
Estudos mais aprofundados sobre o papel do pai começaram a surgir a partir da década de 1950. Pesquisadores passaram a investigar a relação pai-filho e seu impacto no processo de vinculação. A ausência paterna pode trazer consequências profundas para a criança, tanto psicológicas quanto na vida adulta.
Quanto mais jovem a criança, maior é sua necessidade de cuidado. Quando o pai está ausente, essa falta de atenção torna a criança mais vulnerável. É essencial que o pai dedique tempo de qualidade para construir vínculos e oferecer referências de comportamento.
O amor paterno é fundamental para a formação da personalidade. Um pai presente ajuda a moldar uma visão positiva de si mesma, especialmente nos estágios iniciais de vida. Já a ausência pode gerar sentimentos de rejeição, desvalorização e culpa. Ferrari explica que a criança muitas vezes acredita ser a causa do abandono, o que pode resultar em tristeza, agressividade, melancolia ou comportamentos antissociais.
Por outro lado, como destaca Gai, quanto mais cedo o pai participa da vida da criança, maior é seu envolvimento futuro e a qualidade da relação construída.
O futuro aponta para a presença paterna
Hoje, observa-se uma tendência de maior participação paterna. Muitos pais estão mais próximos de seus filhos, acompanhando suas vidas emocionais, sociais e cognitivas. Contudo, ainda há desafios: alguns pais optam por não assumir essa responsabilidade, enquanto algumas mães dificultam o contato entre pai e filho.
Aqui entra a importância dos profissionais da área de proteção à família, educadores e psicólogos. Esses especialistas têm o papel de orientar pais e mães sobre a relevância da função paterna no desenvolvimento infantil, tanto no aspecto emocional quanto cognitivo e social.
A presença ativa e afetiva do pai é um elemento essencial para a formação de indivíduos mais seguros e preparados para lidar com os desafios da vida.
Referências
- Marques J, Letras C, Silva JE, Carvalho R. O papel do pai na sociedade.
- Ferrari JL. Por que es importante el padre?. In: Ferrari JL, ed. Ser padres en el tercer milênio. Mendoza: Ediciones del Canto Rodado;1999. p.91-117.
- Gai C. O papel do pai.
- Moraes MLQ. A estrutura contemporânea da família. In: Comparato MCM, Monteiro DSF, orgs. A criança na contemporaneidade e a psicanálise. Vol. I. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2001.
- Dados do site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).