Dia 02 de Novembro, Dia de Finados, sempre nos coloca a reflexão: Como lidar com o luto? Como lidar com a dor de perder alguém?

Em memória daqueles que nos deixaram, mas ficaram em nossos corações, nossa proposta de diálogo é sobre o luto e as perdas que lidamos ao longo da vida. Assim, trouxemos para ilustrar nossa discussão o lindo texto “Perdas e lutos que enfrentamos ao longo da vida“ da psicanalista Sylvia Pupo e a animação “MovingOn”, produzida e dirigida pelo premiado artista Ainslie Henderson. Em seguida, não esqueça de deixar sua opinião nos comentários!

Dialogando sobre luto

A vida é um constante processo de luto e superação. São diferentes tipos de perdas que variam entre mais ou menos intensas. Passar pela morte uma pessoa querida sempre nos deixa sem rumo e com sentimentos de vazio que parecem que nunca se poderá preencher. Talvez, por isso, falar sobre a morte é sempre complicado.

A lindíssima animação MovingOn” o faz de forma simples e delicada. Traduzido para o português, significa “Seguindo em frente”. Nele vemos um dos protagonistas de lã morrendo / se desfazendo, enquanto o outro boneco de lã precisa lidar com sua perda. Através dessa metáfora incrível,  o vídeo retrata o quanto somos apegados aos sentimentos e às pessoas. Mostra como sofremos e temos dificuldades em “deixar ir”.

Seja qual for o tipo de perda que vivenciamos, sempre somos colocados diante da necessidade de experimentar o luto. Ou seja, confrontar-se com a ausência e a falta do nosso objeto de afeto e elaborar esses sentimentos. Esse é o caminho para podermos seguir em frente. É importante pontuar que “seguir em frente” ou “deixar ir” não significa ‘substituir’ ou ‘esquecer’ a pessoa amada. Mas encontrar sua maneira particular de superar a dor da perda.

O tempo e o caminho da superação são diferentes para cada pessoa. E ao contrário do que muitos pensam, ir mais fundo naquilo que gerou sua tristeza pode ser parte fundamental desse processo. O luto promove um ‘maior nível de integração e amadurecimento da personalidade’. Sobre esse assunto, vale ler o texto da Sylvia Pupo abaixo.

Perdas e lutos que enfrentamos ao longo da vida

Por Sylvia Pupo – Psicanalista e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de SP

“Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima” diz a última estrofe do samba, sugerindo que devemos ser inabaláveis frente aos tombos que a vida nos dá.

Com admiração, geralmente, são vistas as pessoas que não se abatem ante uma perda, golpe ou obstáculo. São estimuladas a mostrar força e quase ausência de sentimentos. “Bola pra frente!”. Como sinal de força e maturidade são instigadas a esquecer rapidamente o acontecido e prosseguir.

Há tantos tipos e intensidades de perdas e de lutos a fazer. Há lutos por mortes ou separações, pelas próprias expectativas não atingidas, por um filho que cresceu e nos obrigou a nos re-situar como pais; por formar-se e ter que procurar um emprego, pela perda da infância, pelo envelhecimento…Cada fase da vida é acompanhada de mudanças; mudanças que nos desalojam e podem ser sentidas como perdas, demandando um trabalho interno de luto. O que é sentido como perda para um, pode não afetar um outro da mesma maneira.

Desde pequenas separações, até perdas mais definitivas, os lutos a fazer são diários e seus efeitos e possibilidades de elaboração vão depender, dentre outros fatores, da história afetiva dos sujeitos e da qualidade de seus vínculos primeiros. Muitas, entretanto, são necessárias e estruturantes. Algumas pessoas acabam criando “soluções maníacas” para lidar com uma situação de perda. Desenvolvem uma excitação que substitui a esperada tristeza. A tal da “volta por cima” pode incluir viagens, festas, gastos, drogas, esportes, comportamentos em excesso que visam ajudar a não pensar ou sentir.

Ao contrário, é necessário “dar a volta por baixo”, poder falar a respeito, sentir, entristecer-se e mergulhar para voltar à tona. Esta é uma etapa fundamental no trabalho de luto, termo sugerido por Freud, em relação ao processo para a elaboração de toda perda. O reconhecimento de uma perda é um passo fundamental para a sua aceitação.

O processo de luto é uma etapa natural e necessária que quando terminado vai promover um maior nível de integração e amadurecimento da personalidade. Aqueles que puderem contar com acompanhamento psicoterápico podem se beneficiar muito disto, principalmente nestes momentos. É importante distinguirmos um luto “normal”, esperado, de um luto patológico, de duração prolongada, onde há transformação da tristeza em depressão. A tristeza é um estado natural, dentre outros, que se seguem a uma perda.

Numa sociedade em que a tristeza não pode ser tolerada e deve ser medicalizada há uma demanda de que sejamos sempre felizes e bem sucedidos, o espaço para a fragilidade e para a própria subjetividade é cada vez menor. O ritmo acelerado nos faz também atropelar as emoções e o tempo necessário para cada um finalizar seus processos.

O luto vai na direção oposta. Ele traz consigo uma necessidade temporária de recolhimento, de parada. Promove uma “regressão” como medida de economia psíquica até o momento em que a pessoa em questão possa retomar seu investimento no mundo. É um tempo de convalescença psíquica. A impossibilidade de uma pessoa vivenciar as fases necessárias de um trabalho de luto, ou mesmo um prolongamento deste período, pode levar a estados cronificados de melancolia, ressentimento e desvitalização.

É importante, que além do trabalho de elaboração individual – com ou sem auxílio de uma psicoterapia – o apoio do grupo social e a utilização de recursos simbólicos e certos rituais presentes na Cultura como um auxílio na elaboração dessas etapas.

Seguindo em frente

Assista a animação e acompanhe a música.

Link para letra da música: Clique aqui

Referências:

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  1. celia 11 de março de 2015 at 09:51 - Reply

    PERDIR MEU FILHO,DOR QUE NÃO PASSA QUE A CADA DIA CRESCE DENTRO DE MIM ,MEU FILHO FOI ASSASSINADO E TUDO PARECE QUE FICA NA MINHA CABEÇA COMO NO DIA, TODOS OS DIAS SÃO IGUAIS AO DIA DA SUA MORTE EM MINHA CABECA

    • Diálogo - Espaço de Psicologia 11 de março de 2015 at 10:40

      Sinto muito por sua perda, Célia! A dor de perder um filho, aos meus olhos, é uma das mais difíceis de lidar. Te desejo muito força!

  2. Jéssica 11 de março de 2015 at 09:20 - Reply

    Estava grávida pela segunda vez, já havia perdido a primeira e resolvi guardar segredo, Até que um dia falei para meu esposo, minha mãe e poucos amigos… Era numa segunda.. Dois dias depois, abortei… impossível esquecer… :-(

    • Diálogo - Espaço de Psicologia 11 de março de 2015 at 10:41

      Bom dia Jéssica! Obrigada por participar! Sinto muito por sua perda! E torço para que não desista de seu desejo de ter um filho! :-)

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Autoria do texto
Júlia Maria Alves

Psicóloga graduada pela UFMG (2009), com especialização em Clínica Psicanalítica na atualidade pela PUC-MG (2021) e em Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral (2012). Atua com atendimento clínico e orientação profissional.

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