O poder em silenciar-se 

O silêncio é uma presença poderosa, embora muitas vezes subestimado e indesejado em uma sociedade que valoriza a produtividade e se torna cada vez mais barulhenta. No entanto, aprender a abraçá-lo é um ato de cuidado essencial para a nossa saúde mental e bem-estar.

Silenciar pode ser um ato de resistência contra o ritmo acelerado que nos cerca. Podemos até dizer que é um ato de ousadia, quase subversivo, quando nos oferece a chance de desacelerar, desconectar dos estímulos externos e nos reconectar com nosso mundo interior.

Em um diálogo, o silêncio é o contraponto que nos oferece a escuta. É o tempo de compreender, um espaço para refletir, processar e entender nossas experiências. Ele é o Yin para o Yang da palavra. É o escuro, a absorção, o feminino, a passividade, o delicado e a acolhida… É uma forma de ouvir o outro com mais atenção e a única via possível de se permitir que a comunicação aconteça.

Estar presente

Permanecer calado pode ser um retorno a uma forma de estar no mundo que privilegia a presença. Ou seja, nem tudo precisa ser palavra, às vezes o simples ato de estar presente é o suficiente.

Na verdade, só existe palavra porque a ausência de som a delimita e dá forma. E só existe “a gente” porque o silencio cria espaço para a “gente” existir. É ali que o sujeito aparece, onde há silêncios… ali, entre as palavras.

O silêncio não é uma ausência, mas um espaço carregado de significado. É uma terra fértil e pode ser tão revelador quanto as palavras. É o espaço necessário para que o sujeito se encontre consigo mesmo.

Nesse contexto, ele pode ser visto como uma espécie de “chave” que abre a porta para o inconsciente. Ele cria um espaço onde o sujeito pode confrontar seus próprios pensamentos, medos e desejos sem a interferência imediata do outro. Isso é especialmente importante na clínica, onde o analista deve se abster de oferecer respostas ou interpretações rápidas, permitindo que o analisando encontre suas próprias verdades.

O silêncio é importante pra c***

Você leu um palavrão ao final dessa frase? Poderia ser um palavrão, ou não… Poderia ser também “O silencio é importante pra cabeça, pra calma, pra cura…” ou, pra caralho também!

O fato é que o silêncio abre espaço para algo aparecer! Ele é essencial para a criatividade, para a resolução de problemas e para a tomada de decisões. Nos permite pensar com clareza, avaliar nossas opções e tomar decisões informadas. Sem o silêncio, nossa capacidade de pensar criticamente e de agir de forma consciente fica comprometida.

Além disso, o silêncio é um elemento chave para a meditação e outras práticas contemplativas, que têm demonstrado benefícios significativos para a saúde mental. Essas práticas nos ensinam a valorizar o silêncio como uma forma de nos reconectarmos com nós mesmos e com o mundo ao nosso redor.

… é importante, mas…

No entanto, para muitas pessoas, o silêncio pode ser desconfortável, provocando sentimentos de ansiedade ou de inquietação. Isso porque o silêncio, ao nos afastar dos estímulos externos, nos coloca em contato direto com nossos pensamentos e emoções. Para aqueles que evitam confrontar seu mundo interno, o silêncio pode parecer ameaçador.

É justamente nesse desconforto que reside o potencial transformador do silêncio. Ao enfrentar o silêncio, somos forçados a lidar com aquilo que muitas vezes evitamos: nossos medos, inseguranças e desejos reprimidos. Esse processo, embora desafiador, é essencial para o crescimento emocional e psicológico.

Conclusão

O silêncio é uma ferramenta poderosa na busca pelo autoconhecimento e pelo equilíbrio emocional. O silêncio é espaço de escuta profunda, onde o inconsciente pode se manifestar e o sujeito pode se encontrar.

Ao abraçar o silêncio, damos a nós mesmos a oportunidade de crescer, de nos conhecer e de viver de forma mais plena e consciente. É um caminho que pode ser desafiador, mas que oferece recompensas profundas para aqueles que estão dispostos a percorrê-lo.

Arte da capa de George Edgar Hicks, pintor inglês (1824-1914)

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Autoria do texto
Júlia Maria Alves
quem somos julia

Psicóloga graduada pela UFMG (2009), com especialização em Clínica Psicanalítica na atualidade pela PUC-MG (2021) e em Gestão de Pessoas pela Fundação Dom Cabral (2012). Atua com atendimento clínico e orientação profissional e gestão de carreira.

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