A medicalização do sofrimento psíquico e seus limites
Vivemos em uma época em que a medicalização do sofrimento psíquico se tornou a regra. Diante da angústia, da ansiedade e da tristeza, é comum que a primeira resposta seja recorrer a um medicamento, buscando um alívio imediato. No entanto, é fundamental lembrar que os psicofármacos podem atenuar sintomas, mas não tratam a causa do mal-estar.
Na clínica é frequente encontrar sujeitos que, apesar de medicados, continuam se sentindo solitários, insatisfeitos e sem rumo. Isso ocorre porque o sofrimento psíquico não se reduz a uma questão química; e vai além de uma é uma desordem emocional. Quando há um uso excessivo de medicamentos, corre-se o risco de silenciar a dor sem permitir que o sujeito a elabore, impedindo o trabalho subjetivo necessário para uma transformação real.
Isso não significa negar a importância dos psicofármacos. Quando bem acompanhados e avaliados por um psiquiatra, são aliados valiosos no tratamento de diversos quadros. No entanto, é essencial evitar abusos e a crença de que a medicação, por si só, resolverá questões que demandam um espaço de escuta e elaboração. O sintoma tem um sentido de existir e que apenas suprimi-lo, sem compreendê-lo, pode levar à repetição do sofrimento em outras formas.
O papel da medicação e a importância do acompanhamento psicoterapêutico
O componente biológico é, sim, um dos fatores envolvidos nos transtornos mentais e deve ser avaliado por um profissional capacitado. Em alguns casos, sintomas orgânicos podem dificultar o avanço no processo psicoterapêutico, e a medicação pode ser fundamental para possibilitar um mínimo de estabilidade. Inclusive, em quadros mais graves, sem o suporte medicamentoso, o paciente pode não conseguir se estabilizar ou dar início a um processo de elaboração.
Entretanto, a medicação não é uma “pílula da felicidade” e, isoladamente, não resolve os problemas emocionais. Se não houver um comprometimento com mudanças na dinâmica que gera sofrimento, os efeitos do medicamento podem ser limitados. A crença de que antidepressivos “aumentam a felicidade” leva muitas pessoas a se automedicarem, sem uma real necessidade clínica, na expectativa de uma mudança que, na verdade, exige um trabalho psíquico mais profundo.
Estudos científicos demonstram que a combinação entre psicoterapia e medicação gera melhores resultados do que o uso isolado dos psicofármacos. Isso ocorre porque fatores psíquicos, históricos e emocionais influenciam diretamente nossas escolhas e modos de viver. A ressignificação desses conteúdos só é possível por meio de um processo terapêutico.
Cuidado com a automedicação
Antes de tudo, é essencial reforçar: jamais suspenda ou inicie uma medicação psiquiátrica por conta própria. O acompanhamento de um profissional capacitado é indispensável para garantir um tratamento adequado e seguro. Além disso, se você se sente desconfortável com o tratamento prescrito, buscar uma segunda opinião médica é um direito seu.
O sofrimento psíquico não se reduz a um desequilíbrio químico, e seu tratamento deve considerar a complexidade da subjetividade. A medicação pode ser uma ferramenta importante, mas a escuta, a reflexão e a elaboração são indispensáveis para uma transformação real.
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